Apesar da crescente participação das mulheres no mercado de trabalho brasileiro, o público feminino ainda é minoria no conjunto de participantes e assistidos dos fundos de pensão no país. Uma recente pesquisa realizada pelo Ministério da Previdência Social (MPS) mostrou que em todas as categorias de patrocínio (públicos ou privados) dos fundos há uma menor participação de mulheres tanto entre os participantes ativos (34,3%) como entre os aposentados (34,9%). O levantamento foi realizado em parceria com a Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência Complementar (Abrapp) com informações coletadas em janeiro de 2025 e divulgadas na última sexta-feira (30/06).
Por outro lado, existe uma quantidade maior de pensionistas do sexo feminino (86,9%) em relação aos do sexo masculino. Em relação a este ponto, o número maior de mulheres pensionistas é explicado pela diferença de expectativa de vida entre os sexos e indica que parte das mulheres não cobertas pelo regime de previdência complementar tem a sua proteção assegurada por intermédio da poupança previdenciária realizada pelo cônjuge ou por outro membro da família. Denominada “Participação Feminina nas Entidades Fechadas de Previdência Complementar e seus planos de benefícios”, a pesquisa mostra ainda a participação das mulheres na gestão dos fundos de pensão.
“Ainda há muitas mulheres fora do sistema, o que representa não apenas uma fragilidade no futuro financeiro delas, mas também uma perda potencial para todo o setor”, explicou o Diretor-Presidente da Abrapp, Devanir Silva, em webinar realizado pela Abrapp na semana passada. Ele ressalta a importância da participação feminina no sistema de previdência complementar fechado, tanto como beneficiárias quanto nas lideranças, e enfatizou que a pesquisa traz dados e histórias que apontam caminhos para mudar essa realidade. “A inclusão de gênero deixa de ser apenas um valor e deve ser uma prática concreta”, defende.
Os resultados podem indicar a necessidade de desenvolver políticas e programas de educação financeira e previdenciária específicos que incentivem o aumento da participação feminina nos planos de benefícios, diz trecho do relatório da pesquisa, que foi respondida por 98 fundos de pensão brasileiros, que representam 37% do total de entidades ativas no segmento fechado de previdência complementar, e 80% do patrimônio do segmento (R$ 1,19 trilhão segundo dados da Abrapp de dezembro de 2024).
Paulo Roberto dos Santos Pinto, Secretário do Regime Próprio e Complementar do Ministério da Previdência Social, apontou o levantamento como ferramenta essencial para identificar lacunas e promover avanços. “A representatividade dessa pesquisa é muito grande e fundamental para nos guiar nos avanços que a gente ainda precisa realizar.”
“Essa pesquisa certamente gerará ações e políticas que vão promover uma participação feminina mais representativa”, disse Jussara Valadares, membro do Conselho Nacional de Previdência Complementar, que exaltou a potência e importância da diversidade para fortalecer a gestão das entidades.
Marcia Paim Romera, Coordenadora-Geral de Normatização e Políticas de Previdência do MPS, também compartilhou sua vivência no mercado financeiro, um ambiente majoritariamente masculino, e destacou o valor da diversidade. “O tema de desenvolvimento de mercado de capitais sempre me intrigou, mas sempre em ambientes muito masculinos. E eu acredito verdadeiramente que o equilíbrio é o caminho”.
Ela ressaltou a importância da presença feminina no setor e a contribuição singular das mulheres para o desenvolvimento do sistema de previdência complementar. “Nós mulheres temos muito a agregar no desenvolvimento desse setor”, disse.
Presença na gestão dos fundos de pensão
A pesquisa também teve como objetivo compreender a dinâmica de inclusão e participação das mulheres no ambiente de gestão dos fundos de pensão e obter dados sobre programas específicos voltados para a adesão do público feminino.
Eldimara Barbosa, Coordenadora-Geral de Estudos Técnicos e Análise Conjuntural do MPS, destacou os principais insights do levantamento, apontando que a representatividade feminina no segmento é baixa, especialmente em cargos de governança e liderança, e a disparidade salarial e de contribuição entre gêneros indica que mulheres terão benefícios previdenciários inferiores, agravando desigualdades futuras.
Apesar da maior participação das mulheres nas equipes, representando atualmente 58% dos colaboradores dos quadros profissionais, quando se olha para os espaços de liderança e decisão das fundações a presença feminina ainda é tímida. A média de participação das mulheres é de apenas 21% nos conselhos deliberativos, 25% nos conselhos fiscais, e 24% nas diretorias executivas dos fundos de pensão.
Embora a maioria das entidades reconheça a importância da diversidade de gênero, 82% não possuem programas específicos para ampliar a presença feminina na liderança. Além disso, 85% não oferecem capacitação voltada para mulheres, e 99% afirmam adotar critérios iguais de promoção, sem ações específicas para mulheres.
Além de mostrar dados da pesquisa, o relatório apresenta recomendações com a finalidade de promover a inclusão feminina nos planos de benefícios e na gestão das EFPC. Entre as principais recomendações, destacam-se as seguintes: a adaptação dos requisitos e formatos de gestão para incentivar a participação de mulheres e formação de lideranças femininas; a definição de cotas ou metas progressivas para representatividade de mulheres nos órgãos de gestão das fundações; a realização de campanhas específicas com metas progressivas para aumentar a participação de mulheres entre os participantes ativos e assistidos dos planos de benefícios; e a implementação de ações de educação financeira e previdenciária para o público feminino; entre outras.
Para Eldimara, é fundamental promover ações de educação financeira e previdenciária específicas para mulheres para aumentar sua autonomia e participação no segmento, e as entidades precisam repensar suas estratégias de governança para incluir diversidade de gênero e, assim, melhorar a representatividade e a qualidade das decisões.
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