A diferença entre poupar e investir é enorme, e os assessores financeiros são essa ponte necessária para desencadear o que se espera que nos próximos anos seja um “tsunami de assessoria financeira em fundos”, disseram especialistas e palestrantes nos painéis do evento «Pioneiros 2025, GBM Advisors».
“Só para dimensionar o avanço da indústria nos anos recentes e o tamanho do desafio que temos pela frente, podemos destacar que os assessores que possuem a certificação de figura 3 na AMIB cresceram de 7.000 em 2022 para quase 10.000 em 2025, mas a demanda que o México precisa é de pelo menos 30.000 assessores certificados até 2030, um desafio monumental”, disse Luis Felipe Madrigal, diretor da GBM Advisors.
“O desafio e as oportunidades estão aí, as carteiras de fundos de investimento confirmam a tendência na demanda de produtos financeiros, passaram de 192 bilhões de dólares em julho de 2023 para 211 bilhões de dólares em 2024 e alcançaram 253 bilhões em julho deste ano; a indústria de assessoria financeira no México está em ascensão, estamos em um momento histórico e o potencial que possui não pode ser desperdiçado, ainda há muito para avançar, poderíamos dizer que estamos no início”, explicou Madrigal.
Para os participantes dos diferentes painéis que ocorreram, a assessoria financeira é a diferença entre uma aposentadoria digna ou cheia de preocupações, a diferença entre uma família que realiza seus sonhos ou vive angustiada, a diferença entre liberdade financeira ou escravidão, e geralmente não é por falta de talento, mas por falta de informação e acompanhamento.
Mas, o que tem acontecido? E especialmente, quais são os desafios que a indústria mexicana enfrenta para impulsionar a geração de assessores financeiros profissionais e especializados que faltam? Temos duas opiniões de executivos que participaram do evento e compartilharam seus pontos de vista.
A chave tem um nome: educação
“Nós vemos uma sofisticação no mercado ou um aumento na sofisticação que é muito importante porque historicamente isso foi baixo. Se olharmos hoje o balanço dos portfólios na alocação de ativos, podemos perceber que acima de 75% dos ativos desses fundos de investimento estão concentrados em renda fixa, e disso uma grande parte é money market, depósitos. Isso nos mostra que há muito a ser feito, há espaço para que a indústria cresça para 30.000 assessores ou mais, sem dúvida, mas isso exige maior educação financeira”, disse Mauricio Giordano, Country Head na Natixis México.
“Sou otimista quanto ao crescimento contínuo multiplicado por três nos próximos anos, é um pouco ambicioso, mas é uma grande oportunidade. No entanto, historicamente tem sido pouco sofisticado e a chave e o desafio estão na educação financeira, se conseguir penetrar por esse meio será um sucesso”, afirmou o executivo da Natixis.
“Nós chegamos há 11 anos ao México e desde o primeiro dia detectamos a importância de criar portfólios de investimento duradouros e diversificados, com baixa correlação entre os ativos, e transmitir isso como um modelo de educação aos investidores. A chave se chama educação, há muito a ser feito nesse campo, apesar de já ter melhorado bastante no país”.
Nesse contexto, para Mauricio Giordano o tema da mudança geracional é para o México “uma oportunidade de ouro”, porque é um mercado quase virgem, ávido por informação e pela presença de profissionais que o inundem de educação financeira.
“Acredito que as novas gerações trazem outro enfoque, para os assessores financeiros deveria ser muito importante estarem focados nesses novos potenciais investidores, mesmo neste momento em que muitos deles têm poucos recursos para investir. A ideia é aumentar a alocação de ativos dentro dos portfólios de investimento dos diferentes fundos de mercado, gerar uma massa monetária impressionante que leve o mercado mexicano, seus integrantes e os investidores do país a outros níveis”, concluiu.
Houve uma geração perdida no mercado financeiro mexicano: Franklin Templeton
O problema da falta de assessores no México é multifatorial, mas destacam-se alguns fatores como a própria regulação e o fato de que no México ocorreu um fenômeno pouco conhecido e aceito: uma geração perdida na indústria financeira, explicou Hugo Petriccioli, Regional Manager México & América Central na Franklin Templeton, em entrevista à Funds Society durante o Pioneiros 2025, GBM Advisors.
“Sem dúvida, o atraso no México existe em relação ao número de assessores financeiros necessários; por exemplo, o Brasil conta com 70.000 assessores, o mercado dos Estados Unidos tem entre 230.000 e 250.000, dependendo da fonte, no México são apenas 10.000 assessores. Não entendo como isso não assusta o regulador”, disse.
“Por outro lado, tínhamos 2 milhões de contas há 5 anos, hoje temos 14 milhões e apenas 10.000 assessores. Se fôssemos pilotos, já poderia haver uma greve porque isso significa que os assessores estão atendendo muito mais clientes. Ainda assim, também há uma grande oportunidade porque existe um atraso brutal de assessores, que devem ser certificados pela AMIB. Algo que fizemos de errado foi permitir que os jovens deixassem de ver atrativo o mercado financeiro do país há alguns anos; foi pelo menos uma geração perdida”, disse Petriccioli.
“Acredito que até hoje não facilitamos as coisas, por exemplo, não conseguimos explicar a um jovem por que ele precisa ou poderia ser assessor financeiro no país e ter um desenvolvimento profissional, se o primeiro requisito solicitado é o RFC (Registro Federal de Contribuintes). Estamos falando de estudantes, é um requisito absurdo, desde o início estamos inibindo a atividade quando nem sequer geraram renda. No meu caso, sou certificado nos Estados Unidos, tenho minha licença ativa, atuo de lá para cá cobrindo parte desse mercado, e não preciso de RFC”.
“Temos que voltar a interessar os jovens para que vejam a oportunidade de se tornarem assessores financeiros e reduzir essa lacuna de 20.000 assessores que faltarão nos próximos anos e, embora não possamos recuperar totalmente, ao menos mitigar essa geração perdida na indústria, esse mercado que foi deixado de lado por anos”.
O outro ponto da equação para Hugo Petriccioli é, sem dúvida, melhorar a qualidade dos assessores financeiros no México, a cada ano “elevar um pouco mais a régua”, para que se tornem mais eficientes, profissionais e, claro, melhores em seu trabalho.
“Porque existe um problema no sentido de que as pessoas acreditam que podem fazer isso sem assessor, que podem investir sem assessor, mas eu estou convencido de que os assessores geram valor para a indústria e, evidentemente, para os investidores. O problema é que com apenas alguns assessores ruins todo o ecossistema sofre”, concluiu o executivo da Franklin Templeton.