Com flexibilidade, humildade e processos disciplinados, os investidores em ações podem manter o rumo. A forte tensão nos mercados pode abalar a confiança em um plano de investimento estratégico. No entanto, se nos basearmos em experiências anteriores, podemos aplicar princípios de investimento comprovados para enfrentar novos desafios.
Gestores de investimentos experientes já testemunharam grandes crises de mercado neste século. Após o estouro da bolha das “pontocom” em 2000, o sistema financeiro global flertou com a catástrofe em 2008 e 2009. Alguns anos depois, a crise da dívida da União Europeia abalou os mercados globais. Mais tarde, em 2020, uma pandemia provocou o fechamento da economia mundial.
Embora soe como um clichê, o que não nos mata nos torna mais fortes — e também melhores investidores. Cada crise tem suas peculiaridades e, sempre que ocorrem, os investidores aprendem lições importantes que são incorporadas às nossas ferramentas para manter o rumo em tempos difíceis.
As coisas estão diferentes desta vez?
A volatilidade deste ano parece incomum. A rapidez com que as políticas do governo dos Estados Unidos estão mudando abalou o sistema de comércio global. Isso dificulta que tanto empresas quanto investidores façam previsões de lucros. As ações americanas de mega capitalização e de tecnologia, que lideraram os mercados nos últimos anos, agora estão tendo suas valorizações e perspectivas de crescimento reavaliadas. Trata-se de um duplo desafio de grande magnitude para os investidores.
Ainda assim, todas as crises são, de certa forma, incomuns. Para superá-las, devemos lembrar que os gestores de carteiras de ações são, fundamentalmente, gestores de riscos. À medida que o mundo evolui, nossa tarefa é avaliar os riscos em transformação — para empresas, setores e mercados — e realizar ajustes que nos permitam obter melhores resultados de longo prazo para nossos clientes. É fundamental se manter fora do olho do furacão do mercado. Aqui estão três orientações que podem ser úteis nestes tempos:
Encontrar empresas que não sejam sensíveis a tarifas.
Parece óbvio, mas vale a pena repetir: em qualquer crise, algumas empresas estarão diretamente expostas aos maiores riscos, enquanto outras não. Quando esses riscos explodem, é hora de se afastar. Pense nos bancos durante a crise financeira global ou nas companhias aéreas durante a pandemia.
Embora nem sempre seja fácil se isolar da exposição a tarifas, há setores que conseguem. A maioria das empresas de software, operadoras de telefonia sem fio e prestadoras de serviços nacionais simplesmente não serão afetadas por tarifas.
As empresas financeiras americanas são um ótimo exemplo. Elas são imunes a tarifas, e alguns bancos têm negócios diversificados, avaliações atraentes e balanços sólidos. Os investidores podem ter vantagem se o presidente Trump desregulamentar o setor financeiro, o que melhoraria tanto o capital quanto os gastos dos bancos. Evidentemente, os bancos são vulneráveis a uma desaceleração ou recessão econômica. No entanto, acreditamos que determinados bancos com fundamentos sólidos conseguiriam chegar ao outro lado do ciclo econômico em boas condições.
Atenção às posições saturadas.
A sabedoria das massas é tentadora quando estão ganhando muito dinheiro. Porém, na maioria das vezes, isso acaba em arrependimento. No início do século XXI, os investidores que seguiram o rebanho apostando nas “pontocoms” caras e pouco lucrativas tiveram seu momento de glória — que durou muito pouco. Lembra das empresas de aquisição de propósito específico (SPACs), que estiveram na moda entre 2020 e 2021 e depois desapareceram?
Mais recentemente, as ações das Sete Magníficas e da IA desfrutaram de enorme popularidade e foram investimentos lucrativos. No entanto, essas posições começaram a se desfazer à medida que suas avaliações disparavam, enquanto ações “impopulares” registravam recuperação. Poucos imaginavam, em 1º de janeiro, que as ações europeias superariam as americanas em rentabilidade, ou que os setores de saúde e consumo básico liderariam o mercado dos EUA.
Posições saturadas podem desmoronar rapidamente, especialmente quando o mercado está nervoso. Uma ação muito popular pode despencar porque os fluxos de fundos exigem que outros vendam. Por isso, gestores ativos devem seguir suas convicções, mesmo que elas não estejam na moda. Isso não significa que todas as ações de mega capitalização ou IA estejam proibidas. Apenas certifique-se de que seu gestor as esteja comprando pelos motivos certos e ao preço adequado.
Análise cuidadosa das avaliações.
Os investidores sempre devem verificar os preços das ações que compram. Atualmente, acreditamos que faz sentido evitar ações excessivamente caras e apostar em ações de valor. Elas tiveram melhor desempenho que as ações growth no primeiro trimestre e conseguiram reverter uma tendência de longa data.
No passado, as ações de valor eram muito sensíveis aos ciclos econômicos. No entanto, isso já não é necessariamente assim. Agora é possível encontrar várias ações com múltiplos preço/lucro atraentes e modelos de negócios de qualidade como ponto de partida. As ações mais baratas atuam como defesa, pois quando ocorre uma reprecificação do mercado de ações em momentos de turbulência, é improvável que sua correção seja tão acentuada quanto a das ações mais caras.
Para seguir essas orientações é necessário ter flexibilidade. Isso significa que os investidores precisarão se adaptar à medida que as tarifas transformam profundamente o funcionamento da economia global. Para nós, que investimos em ações dos EUA, isso significa criar uma alocação diversificada de ações growth excepcionais, ao mesmo tempo em que apostamos em ações value com características de qualidade.
Equilíbrio com humildade e flexibilidade
Alcançar esse equilíbrio em mercados tão complexos também exige humildade. As cicatrizes deixadas por crises anteriores nos lembram da necessidade de questionar constantemente a tese de um investimento e considerar reavaliá-la quando as circunstâncias mudam.
Quedas no mercado são assustadoras. Mesmo após anos de ganhos, os mercados em baixa expõem erros, excessos e falhas. Quando as perdas aumentam, muitas vezes as emoções se impõem e podem levar os investidores a tomar decisões contraproducentes, como vender quando o mercado cai — mesmo que as ações geralmente se recuperem rapidamente após momentos de maior volatilidade.
Mas também há boas notícias: podemos combater essas reações humanas às crises com experiência. Aplicar as lições aprendidas com disciplina e flexibilidade pode ajudar os investidores a se sentirem mais confortáveis permanecendo no mercado, pois isso ajuda a limitar os danos até que a recuperação finalmente ocorra.
Tribuna de opinião escrita por Kurt Feuerman, Chief Investment Officer — Select US Equity Portfolios na AB (AllianceBernstein.
As opiniões expressas neste documento não constituem análise, aconselhamento de investimento ou recomendação de negociação e não representam necessariamente as opiniões de todas as equipes de gestão de carteiras da AB. As opiniões podem mudar ao longo do tempo.