À medida que a narrativa do excepcionalismo norte-americano começa a se desvanecer – como mostra o número de gestores de fundos globais que estão reduzindo sua exposição às ações dos EUA¹ –, os investidores se perguntam cada vez mais: e agora, para onde? Embora seja provável que a resposta seja multifacetada, acreditamos que ela deve incluir a China. Apesar dos indícios de que o domínio das ações norte-americanas atingiu seu ápice, os investidores estrangeiros ainda não demonstraram um interesse significativo pelos mercados chineses. As alocações em ações chinesas permanecem 53% abaixo de seus máximos de 2020, mesmo após uma modesta recuperação no início de 2025². Em nossa opinião, esse descolamento oferece um potencial atraente, embora não se possa excluir uma maior volatilidade tarifária no curto prazo. Por isso, acreditamos que chegou o momento de revisar as exposições às ações chinesas.
Valuações atraentes com potencial de alta
Em termos relativos e históricos, as ações chinesas negociam hoje em valuações potencialmente atraentes (gráfico 1). Com os primeiros sinais de uma inflexão nos lucros e uma participação estrangeira ainda baixa, o renovado interesse internacional poderia atuar como catalisador da próxima alta.
Gráfico 1 – A China parece subvalorizada nos principais indicadores
Melhoria dos fundamentos
As empresas estão aprimorando a alocação de capital em conformidade com as melhores práticas globais, como demonstra o aumento da distribuição de dividendos, a recompra de ações e um enfoque mais disciplinado na gestão da dívida. Os reguladores também estão incentivando as empresas listadas a melhorar a transparência e a devolver capital aos investidores. Essas mudanças não apenas fortalecem os balanços, mas também sinalizam um ambiente de mercado maduro, no qual as estratégias empresariais estão mais alinhadas aos interesses dos investidores. Para os investidores de longo prazo, essa tendência reforça o atrativo das ações chinesas como fonte de retornos sustentáveis.
Um modelo econômico mais resiliente
Acreditamos que o desapalancamento em curso do mercado imobiliário chinês e a crescente disposição do governo chinês em utilizar suas alavancas políticas começaram a reduzir os riscos financeiros sistêmicos, especialmente no setor bancário, reforçando assim os alicerces financeiros do país.
Mudança de política favorável ao setor privado
Os responsáveis políticos chineses parecem apoiar cada vez mais a iniciativa privada e a necessidade de fomentar a inovação e acelerar a transição para uma economia baseada no conhecimento.
Força contracíclica dos consumidores
A confiança dos consumidores, embora ainda em recuperação, mostra sinais de melhora. As famílias chinesas mantêm altas taxas de poupança, proporcionando “pólvora seca” para o consumo.
Estabilização do mercado imobiliário
O pior da crise imobiliária parece ter passado, com sinais crescentes de estabilização e até alguns brotos verdes nos principais mercados urbanos.
Apoio fiscal dos governos locais
Com as finanças dos governos locais agora sobre uma base mais estável, esperamos um aumento na emissão de títulos dos governos locais para apoiar infraestrutura e consumo, fornecendo um vento favorável à demanda interna.
Benefícios da diversificação
As ações chinesas tendem a apresentar baixa correlação com os mercados globais, tornando-se um valioso diversificador de carteiras. Esperamos que essa divergência se acelere ao longo do tempo, à medida que a desglobalização se intensifique.
Desvinculação estratégica dos EUA
As empresas chinesas estão reduzindo sistematicamente sua dependência dos mercados de capitais norte-americanos e transferindo suas listagens para o mercado nacional ou para Hong Kong, criando oportunidades adicionais de diversificação.
Aprofundamento dos laços comerciais globais além dos EUA
A China busca proativamente diversificar seus parceiros comerciais, com um pivô em direção à Europa. No início de 2025, China e UE concordaram em aprofundar suas relações econômicas e comerciais. Embora os pontos de atrito sejam difíceis de resolver, os funcionários chineses enfatizaram sua disposição de abordar essas “diferenças” de forma construtiva, reconhecendo as preocupações dos responsáveis políticos europeus.
A próxima história de valorização
Embora o sentimento dos investidores em relação à China permaneça compreensivelmente cauteloso em meio à incerteza geopolítica e tarifária, os fundamentos subjacentes apontam para uma história mais positiva de longo prazo, baseada em melhorias estruturais internas, e não em dependências externas. Desde um modelo econômico mais resiliente e reformas favoráveis ao setor privado até o aprofundamento dos laços comerciais além dos EUA – especialmente com a Europa –, a China está se posicionando cada vez mais para prosperar, mesmo em uma ordem mundial mais fragmentada, uma mudança que ainda não se reflete nas valuações. Para os investidores dispostos a olhar além das manchetes, a China pode muito bem ser a próxima grande história de valorização.
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Tribuna de Bo Meunier, CFA, gestor de carteiras de ações; Irmak Surenkok, diretora de investimentos; e Gilbert Chen, especialista em investimentos da Wellington Management.