Na opinião de Mobeen Tahir, diretor de Macroeconomic Research & Tactical Solutions da WisdomTree, este está sendo um ano de siglas nos mercados financeiros. “Tudo começou com MAGA: Make America Great Again (“hagamos grande de novo a Estados Unidos”). Ocasionalmente, alguns deram uma conotação satírica com MAGA: Make America Go Away (“hagamos que Estados Unidos desapareça”), ou MEGA: Make Europe Great Again (“hagamos grande a Europa de novo”). De fato, este ano, os maiores fluxos de investimento para ativos europeus em vez de americanos acompanharam muitas vezes essa visão satírica. Nessa lista é preciso incluir, claro, DOGE: o Departamento de Eficiência Governamental. E, mais recentemente, TACO”, aponta Tahir.
Segundo ele explica, este último termo foi cunhado pelo colaborador do Financial Times, Robert Armstrong, e significa Trump Always Chickens Out (“Trump sempre se acovarda”). E o acrônimo não se refere ao México, embora este país tenha algumas ligações com ele, mas sim descreve o padrão do presidente Trump de fazer anúncios políticos ousados, como impor tarifas ou ameaçar o Federal Reserve dos Estados Unidos, para depois voltar atrás e suavizar o tom. Para o especialista da WisdomTree, isso, evidentemente, se traduziu em uma importante volatilidade no mercado.
“Para os investidores do Nasdaq 100, TACO representou uma montanha-russa, como se observa no gráfico a seguir. Para aqueles que se inclinam a operar taticamente em torno dessas bruscas flutuações do mercado, houve muitas oportunidades de tomar posições em um ou outro sentido”, destaca Tahir.
Cronologia do Nasdaq 100
O gráfico destaca uma seleção de dias notáveis em que o presidente Trump fez anúncios de linha dura (em vermelho) e posteriormente voltou atrás nessas posições. “A reação típica do Nasdaq 100 foi negativa em resposta aos anúncios de linha dura e positiva após os recuos subsequentes”, observa Tahir. Segundo sua opinião, estes são os momentos mais importantes do ano:
1º de fevereiro: Trump assina uma ordem executiva impondo tarifas às importações do México, Canadá e China. O Nasdaq 100 caiu.
3 de fevereiro: Trump anuncia uma pausa de 30 dias na sua ameaça de tarifas contra México e Canadá. A reação do Nasdaq 100 é positiva.
13 de fevereiro: Trump anuncia planos de tarifas recíprocas. Segue-se uma série de ameaças tarifárias contra diversos países. O Nasdaq despenca.
2 de abril: Dia da Libertação: são anunciadas tarifas recíprocas. O Nasdaq 100 sofre uma forte queda.
9 de abril: É anunciada uma pausa de 90 dias nas tarifas recíprocas. O Nasdaq experimenta um forte repique.
21 de abril: Trump ameaça demitir o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell.
22 de abril: Trump retira sua ameaça de demitir Jerome Powell.
12 de maio: EUA e China concordam com uma suspensão de 90 dias das tarifas de retaliação elevadas.
23 de maio: Trump ameaça a União Europeia (UE) com tarifas de 50% e a Apple com 25% sobre seus produtos, a menos que sejam fabricados nos EUA.
26 de maio: As tarifas da UE são adiadas até julho.
“Pode-se dizer que ninguém consegue prever o que virá a seguir em relação aos anúncios de tarifas. Mas a verdadeira questão é se o efeito TACO continua vivo. Ainda restam oportunidades interessantes para os investidores? Uma hipótese é que o efeito TACO pode ter terminado porque os mercados ficaram imunes a novos e ousados anúncios do presidente Trump, sabendo que eventualmente serão revertidos ou pelo menos suavizados. Enquanto a hipótese contrária é que a incerteza política está maior do que nunca”, aponta Tahir.
Sua principal conclusão é que o Nasdaq 100, muitas vezes considerado um indicador indireto do setor tecnológico americano, foi fortemente influenciado pelas medidas políticas do presidente Trump. “Independentemente de os investidores apoiarem ou não o comércio TACO, é provável que a incerteza política continue elevada. E, se finalmente o foco se desviar das tarifas, talvez voltem ao centro do palco os fundamentos corporativos, como lucros e dados econômicos, por exemplo a inflação, a força do mercado de trabalho e o PIB”, argumenta o especialista.
Para Tahir, talvez então voltem a ganhar destaque acrônimos mais tradicionais como FOMO (Fear of Missing Out (Medo de ficar de fora)), TINA (There Is No Alternative (Não há alternativa)) e RINO (Recession in Name Only (Recessão apenas no nome)). “Em qualquer caso, algo continuará atraindo os investidores e continuará empurrando o NASDAQ 100, de uma forma ou de outra”, conclui.