O 35% dos family offices na Espanha terá que enfrentar uma mudança geracional nos próximos dez anos, o que torna necessário avançar em uma adequada planejamento sucessório para garantir a continuidade e o sucesso a longo prazo dessas entidades. Esta é uma das conclusões do estudo “Descobrindo o family office espanhol” elaborado pela OpenWealth, o multifamily office do Grupo CaixaBank, e pela finReg360, empresa especializada em regulação, consultoria e fiscalidade financeira.
O estudo, baseado nas informações recebidas em entrevistas com 40 grupos familiares durante 2024, oferece uma visão atualizada dos family offices na Espanha, analisando seu modelo organizacional e de governança, estrutura de investimentos e principais desafios.
O relatório mostra um ecossistema de family offices em crescimento e jovem, no qual o planejamento sucessório é a principal preocupação (40% das famílias entrevistadas consideram-no um desafio crítico, e 18%, muito relevante): 52% das famílias ainda não enfrentaram o desafio da sucessão; e 35% prevêem uma mudança geracional nos próximos 10 anos.
Os especialistas ressaltam que a continuidade do patrimônio familiar depende de um planejamento sucessório eficaz e do grau de preparo da próxima geração para assumir a gestão. Por isso, avançar para uma maior profissionalização se torna uma prioridade estratégica.
No entanto, os dados do estudo refletem um ecossistema ainda pouco maduro, no qual os mecanismos com os quais os family offices governam seus investimentos e assuntos familiares estão em fase inicial de desenvolvimento. De acordo com o estudo, 75% dos family offices estão em fases iniciais ou ainda sem formalizar uma estrutura específica para a gestão profissional de seu patrimônio – com 6,6% em andamento e 66,8% de forma incipiente.
Um diagnóstico
O estudo tem como objetivo ser um diagnóstico dos grandes patrimônios familiares na Espanha, descrevendo seu tamanho, estrutura e organização; suas fontes de riqueza e como suas carteiras de investimentos são compostas; os diferentes modelos de gestão patrimonial adotados por essas entidades; e os desafios que enfrentam na gestão e preservação de seus patrimônios. Além disso, inclui a visão de diversos especialistas sobre aspectos-chave como cibersegurança, gestão de riscos e fiscalidade, com o objetivo de fornecer uma perspectiva complementar e prática sobre áreas críticas para a gestão patrimonial.
Para Marta Alonso, diretora-geral da OpenWealth, “com este estudo, além de oferecer um diagnóstico completo do setor, buscamos também fornecer um guia que ajude as famílias a identificar em que ponto se encontram na evolução de seu patrimônio – desde fases mais jovens até etapas mais maduras – e quais estratégias podem adotar para garantir seu crescimento e continuidade ao longo das gerações.”
Por sua vez, Fernando Alonso e Jorge Ferrer, sócios da finReg360, destacaram que “os family offices têm grandes desafios pela frente, como o planejamento sucessório, a profissionalização da gestão e o reforço da governança, que serão aspectos decisivos para preservar o legado familiar.”
Modelos organizacionais
O estudo também descreve as diferentes formas de organização das famílias para gerenciar seu patrimônio: single family offices (SFO), que supervisionam o patrimônio e as necessidades da família de forma exclusiva; os multi family office (MFO), que permitem também mutualizar os gastos e os investimentos necessários; e embedded family offices (EFO), que otimizam os recursos administrativos disponíveis e alocados nos negócios familiares para supervisionar os excedentes de riqueza que geram.
Entre as diferentes modalidades, a escolha está muito ligada ao volume de ativos da família, devido à escalabilidade dos recursos alocados para a oficina em relação ao patrimônio supervisionado. Enquanto o SFO é a modalidade mais comum entre as famílias com maior patrimônio – famílias com mais de 100 milhões de euros –, as com patrimônio abaixo de 100 milhões optam pelos MFO ou EFO.
Como investem os family offices na Espanha?
O relatório mostra uma distribuição equilibrada dos investimentos dos family offices. De acordo com os dados extraídos, as famílias espanholas mantêm uma tendência imobiliária, com 24% de suas carteiras de investimento alocadas neste setor, acima dos 18% de outras famílias europeias.
Como tendência futura, as famílias planejam aumentar sua exposição à renda variável, a ativos imobiliários e a veículos de private equity, em detrimento das posições em renda fixa, provavelmente antecipando um cenário próximo de moderação das taxas de juros. Entre os setores, prevê-se um crescimento de sua exposição no setor tecnológico, de saúde e energético.
O planejamento patrimonial e fiscal também é um fator importante na hora de selecionar os investimentos pelos family offices, investindo em atividades culturais (36% das famílias), em projetos de P&D (38%), em atividades não lucrativas ou de mecenato (52%) e em seguros de vida (19%).
Outra característica de investimento que o estudo revela é que muitas famílias recorrem ao alavancamento para adquirir os ativos de suas carteiras e otimizar o uso de seu capital, utilizando na maioria das vezes modelos de financiamento direto com colateral imobiliário ou financeiro.
Um papel crucial no desenvolvimento econômico do país
O estudo conclui que os family offices desempenham um papel relevante e positivo para o desenvolvimento econômico e social na Espanha, graças ao impulso do mecenato, do tecido empresarial e da inovação.
Assim, as famílias desempenham um papel ativo no âmbito social, apoiando a conservação cultural, a inovação educacional e o avanço médico. Elas também impulsionam o emprego, o financiamento alternativo e a competitividade empresarial. E finalmente, com seu apoio a startups, novas tecnologias e à conservação cultural, fomentam o crescimento sustentável e a inovação, ajudando na adaptação da economia ao ambiente global.