O setor segurador espanhol investiu no ano passado um total de 320,27 bilhões de euros em 2024, o que representa 20,1% do PIB nacional, conforme revela o relatório «Investimentos no setor segurador. Tendências 2025», apresentado no IV Congresso de Investimentos e Finanças no setor segurador, organizado pela ICEA em colaboração com a Amundi.
Do total desse montante, 67,7% está investido em renda fixa, enquanto o restante, 19,2%, está em renda variável e em instituições de investimento coletivo (IICs). Além disso, 89,2% dos títulos pertencem a países da zona do euro, dos quais 56,7% são espanhóis.
Detalhando por ativos, dentro da renda fixa, a dívida pública representou 47,7% e o crédito corporativo, 20%. Já na categoria de renda variável e IICs (instituições de investimento coletivo), 7,1% dos investimentos do setor segurador espanhol estão em renda variável e 12,1% em IICs. O setor imobiliário concentra 3,3% dos investimentos, enquanto outros ativos representam 9,8%.
Diferenças com a Europa
O estudo também revela diferenças entre os investimentos do setor segurador espanhol e os de seus pares europeus. As aplicações na zona do euro somaram 2,05 trilhões de euros, representando 52,6% do PIB da região. Enquanto isso, as seguradoras dos 27 países da UE investiram 7,35 trilhões, o equivalente a 50,4% do PIB.
Há também diferenças notáveis nos ativos, já que os investimentos das seguradoras da zona do euro em dívida pública representam 20,8% do total, e em crédito corporativo, 17,8%, percentuais muito semelhantes aos do conjunto da UE.
Por outro lado, os investimentos em renda variável por parte das seguradoras europeias giram em torno de 15%, e em IICs, 35%, em comparação com os 7,1% e 12,1% das seguradoras espanholas.
Além disso, o investimento das seguradoras espanholas em imóveis é o dobro do realizado por suas homólogas europeias: 3,3% contra 1,5%, respectivamente.
Oportunidade na zona do euro e também em alternativos
Além da renda variável europeia, do crédito privado investment grade (IG) europeu e da dívida pública europeia, as entidades consideram os ativos alternativos privados entre aqueles com oportunidades potenciais de investimento. As entidades estão voltando sua atenção para os investimentos alternativos entre os ativos que oferecem melhores oportunidades de retorno, destacando a dívida privada, o capital de risco e infraestrutura, onde 36%, 24% e 26% dos entrevistados preveem aumentar a exposição em 2025.
A dívida pública espanhola e europeia continua atraente para as seguradoras, já que mais da metade dos entrevistados planeja aumentar sua exposição ao longo deste exercício. Os títulos verdes também estão entre os ativos nos quais 48% dos entrevistados consideram aumentar a exposição, juntamente com quase 45% que planejam fazê-lo em crédito IG europeu.
Quase todas as seguradoras que participaram do estudo (98%) consideram critérios ESG em sua estratégia de investimento, destacando especialmente os critérios ambientais. Nesse sentido, 25,5% das entidades consultadas estão implementando investimentos alinhados com os objetivos de emissões líquidas zero (Net Zero). A regulamentação aparece como a principal motivação para considerar critérios ESG, enquanto a disponibilidade de dados é o principal obstáculo identificado.
Fatores de risco que mais preocupam as seguradoras
Segundo o estudo, as seguradoras estão preocupadas com o impacto que as tensões geopolíticas podem ter sobre suas carteiras, bem como com as medidas do presidente norte-americano Donald Trump em seu segundo mandato, “especialmente as relacionadas à política comercial e seu efeito sobre a normalização da inflação”. De fato, 74,5% dos participantes consideram que existe risco de alta da inflação.
Entre os fatores com maior impacto nas decisões de alocação de ativos estão o ciclo dos juros, os retornos esperados por classe de ativos, as mudanças no perfil dos passivos e vendas de produtos, bem como os requisitos regulatórios de capital.
Terceirização da carteira
Metade das entidades consultadas (51%) afirma que terceiriza parte ou a totalidade da gestão de sua carteira e prevê que continuará assim em 2025. Isso se deve à capacidade dos gestores externos de ajudar a avaliar os investimentos, as tendências dos setores e os ciclos econômicos, com o objetivo de identificar determinadas oportunidades de investimento e construir uma estratégia sólida de gestão de portfólio.
Por sua vez, o uso da IA para análise/gestão de investimentos ainda não está muito disseminado entre as seguradoras espanholas. Apenas 4% das entidades consultadas declaram usar IA para análise e gestão da carteira de investimentos, embora 54% indiquem que, apesar de não utilizarem atualmente ferramentas de inteligência artificial com essa finalidade, estão considerando seu uso.
Principais temas do Congresso de Investimentos do setor segurador
A apresentação do relatório ocorreu no 4º Congresso de Investimentos e Finanças do setor segurador em 27 de maio, onde diversos profissionais expuseram também as principais tendências de investimento do setor.
Víctor de la Morena, diretor de investimentos da Amundi Iberia, destacou como o atual cenário macroeconômico levou a uma descorrelação inédita entre o dólar americano e os ativos denominados na moeda, além da falta de sincronização entre os bancos centrais, o que favorece a renda fixa, particularmente a dívida pública europeia e o investment grade dos mercados desenvolvidos.
Esse cenário também tem sido desfavorável para a renda variável, considerando a incerteza sobre o futuro de muitas empresas, embora ainda existam oportunidades em ações de valor nos EUA. Victor de la Morena destacou que a visão atual da Amundi é mais positiva para a Europa do que para os EUA, tanto em renda fixa quanto em variável.
Por sua vez, Antonio Martín, diretor de estudos e TI da ICEA, mencionou os resultados do setor segurador em 2024, com uma tendência de crescimento em certos ramos de não vida com rentabilidades atrativas. Romain Munera, gestor de portfólio da Amundi, explorou junto a Cristina Carvalho, diretora de Negócios Institucionais da Amundi Iberia, como as seguradoras podem ampliar seu universo de investimento com notas estruturadas.
Na mesa sobre mercados privados, intitulada «Qual o seu papel nas carteiras e como são implementados», Xevi Moreno, diretor de Investimentos da HNA, e Antonio Morales, diretor de Investimentos não cotados da Mutua Madrileña, comentaram junto a Nuria Ortega, diretora Comercial de Ativos Alternativos da Amundi Iberia, as razões pelas quais investem em mercados privados, destacando a diversificação, os retornos consistentes, a descorrelação que oferecem e a busca por um melhor perfil de risco/retorno nas carteiras. Destacaram também a importância de seguir uma estratégia clara e de longo prazo, alinhada com os objetivos da empresa, além de contar com equipes e recursos sólidos e experientes para lidar com essa classe de ativos.
Gianmarco Caracci, da Quantessence, apresentou uma nova geração de produtos personalizados de poupança e investimento baseados em carteiras modelo com ETFs subjacentes, enquanto Ignacio Prieto, da Node.AI, abordou o uso da IA na gestão de investimentos. O coronel do Exército de Terra espanhol, Pedro Baños, encerrou a conferência analisando as perspectivas geopolíticas.