As ações se recuperaram com força no que vai do ano, apoiadas por condições financeiras amplamente acomodativas. Para os investidores, o grande desafio é diversificar sua exposição sem esquecer os ativos norte-americanos, mas buscando oportunidades na Europa e em mercados emergentes.
“A temporada de resultados do segundo trimestre tem mostrado surpresas razoavelmente positivas em relação às expectativas dos analistas, após os cortes significativos antes do seu início. Os indicadores de confiança, como Sentix, IFO e PMIs, continuam mostrando resistência, e espera-se que as políticas da China continuem apoiando a economia. De forma semelhante, a UE se beneficia do plano de defesa e do ‘bazuca’ alemão. A prorrogação dos cortes fiscais nos EUA deve continuar reforçando a confiança empresarial e, por fim, as avaliações fora dos EUA sustentam retornos razoáveis no futuro”, afirma Michele Morganti, estrategista sênior de ações da Generali AM (parte da Generali Investments), fazendo um balanço.
Europa mantém seu atrativo
Na opinião de Raphaël Thuin, chefe de Estratégias de Mercados de Capitais da Tikehau Capital, e Nina Majstorovic, especialista em Investimentos e Estratégias de Mercados de Capitais da mesma empresa, embora as altas avaliações, principalmente nas ações norte-americanas, deixem pouco espaço para erros, o aumento da dispersão abre oportunidades de investimento em segmentos específicos.
Segundo eles, a Europa apresenta uma oportunidade clara. “O desconto histórico em relação aos EUA, a subexposição dos investidores e o novo impulso a conceitos como soberania, autonomia e resiliência sustentam setores estratégicos como defesa, tecnologia, infraestrutura, energia e saúde”, destacam. Dentro desse contexto, os especialistas da Tikehau Capital mostram preferência por bancos periféricos (Espanha, Portugal, Grécia), que reforçaram significativamente seus balanços.
Uma visão compartilhada também pela BlackRock. “Apesar dos cortes de juros do BCE, os bancos europeus mantiveram uma rentabilidade sólida. Com os juros se estabilizando em torno de 2%, continuamos apostando em bancos capazes de remunerar seus acionistas com dividendos e recompra de ações. Essas instituições continuam bem posicionadas para obter bons resultados em um ambiente de juros baixos”, argumenta a gestora em seu relatório de perspectivas para o terceiro trimestre do ano.
Além do setor financeiro, a BlackRock acredita que a qualidade é chave para o desempenho da Europa na segunda metade do ano e posteriormente. “Vemos oportunidades para que gestores ativos encontrem empresas de qualidade em setores de alto padrão. Por exemplo, fabricantes europeus de semicondutores e seus fornecedores estão preparados para crescer, beneficiando-se do investimento global em inteligência artificial e do aumento de investimentos. Também o setor de luxo está bem posicionado para oferecer crescimento de lucros superior ao do mercado. Preferimos marcas selecionadas de alta gama com forte poder de precificação, que ajudam a compensar o impacto das tarifas”, afirma a gestora.
Também os mercados emergentes
Segundo algumas gestoras, os mercados emergentes oferecem algumas das melhores oportunidades. “Esperamos que essas economias cresçam 4% este ano e no próximo, em comparação com cerca de 1,2% do mundo desenvolvido, mantendo-se até o próximo ano em níveis máximos de duas décadas, com melhora da produção industrial, especialmente na China, relaxamento dos bancos centrais e moedas baratas. Essa vantagem impulsionou a valorização dessas moedas, ainda subvalorizadas em mais de 10%. Também somos otimistas quanto às ações chinesas. O Banco Popular da China adotou uma postura acomodativa pela primeira vez desde a grande crise financeira global, com ênfase em aplicação mais eficiente e impactante das políticas de estímulo. Pequim está disposto a apoiar a economia com maior flexibilização e planeja eliminar gradualmente os jogadores mais fracos para abordar o excesso de capacidade nas indústrias, que gera deflação”, afirma Luca Paolini, estrategista-chefe da Pictet AM.
Matt Williams, Diretor Sênior de Investimentos da Aberdeen Investments, foca nas oportunidades na Ásia. “Dentro da China, continuamos priorizando o consumo interno e os setores de serviços, que apresentam fluxos de caixa saudáveis e melhores perspectivas de crescimento e rentabilidade em comparação com os setores financeiro, imobiliário, exportador e de infraestrutura. Em geral, continuamos preferindo países com balanços sólidos e fluxos de caixa robustos, cujos valores atendem aos nossos critérios bottom-up e refletem um enfoque centrado na solidez do balanço, fluxo de caixa e rentabilidade para os acionistas”, aponta Williams.
EUA: oportunidades seletivas
Os investidores, porém, não querem ficar de fora do bom momento de mercado. Nesse sentido, os especialistas da Tikehau Capital consideram que a exposição ao setor tecnológico continua sendo crucial. “Apesar da correção nas avaliações dos chamados 7 Magníficos, o crescimento de lucros continua, especialmente em áreas como inteligência artificial, publicidade online e serviços em nuvem”, reconhecem.
Por isso, defendem uma seleção rigorosa de ações. “Além disso, o ambiente atual pode favorecer ações defensivas, destacando o potencial do setor de saúde, em segmentos como tecnologia médica e veterinária. Apesar das incertezas, continuar investido é essencial. O crescimento segue positivo, o ciclo de desinflação é mais visível e a realocação de fluxos favorece a Europa. Contudo, é fundamental manter liquidez e priorizar a seleção de ativos por meio de análise fundamental”, concluem os especialistas da gestora.