A Europa não perde atratividade para os investidores. Segundo as principais firmas de investimento, a renda variável continua oferecendo argumentos favoráveis; inclusive consideram indispensável manter a exposição a essa geografia nas carteiras de 2026, indo além de ser um ativo para diversificação.
A renda variável europeia teve desempenho melhor do que a americana no início deste ano, mas desde então devolveu esses ganhos, apesar de as pesquisas de atividade empresarial de outubro terem alcançado o nível mais alto desde maio de 2023. O que é necessário para acender um renascimento do investimento?

Na opinião do BlackRock Investment Institute (BII), são necessárias políticas mais favoráveis às empresas e mercados de capitais mais profundos para justificar uma ampla sobreponderação das ações europeias. “A renda variável europeia há muito tempo está atrás da americana desde a crise financeira global, prejudicada por desafios estruturais como o envelhecimento da população, após ter superado os EUA na década de 2000. A recuperação das ações europeias no início deste ano — o primeiro trimestre foi o mais forte em relação aos EUA desde 2015, segundo dados da MSCI — alimentou expectativas de que a sorte da Europa pudesse mudar em breve. A atividade econômica da zona do euro também demonstrou resiliência: o índice PMI composto de outubro atingiu o maior nível em dois anos e meio. No entanto, esse período de melhor desempenho foi efêmero. O prolongado baixo desempenho da Europa implica que as avaliações das ações europeias também fiquem atrás: todos os setores regionais negociam com desconto em relação aos seus equivalentes americanos”, argumentam.
Conjuntura favorável
Nesse contexto, a gestora se pergunta o que seria necessário para que a Europa assumisse uma liderança sustentável. A seu ver, seriam reformas que enfrentem desafios de longa data, que criem um ambiente mais favorável aos negócios e que aprofundem seus mercados de capitais. “Políticas mais pró-empresa poderiam impulsionar a rentabilidade do capital do setor corporativo. A fragmentação do mercado limita a capacidade das empresas europeias de crescer em nível continental — um estudo da Comissão Europeia de 2019 estimava que as fricções comerciais reduzem cerca de 10% do PIB potencial —, assim como o caráter intervencionista do marco regulatório da região. Eliminar barreiras internas e flexibilizar a regulação poderia melhorar os retornos”, aponta o BlackRock Investment Institute (BII) em seu último relatório.
Apesar dos desafios apontados pela BlackRock, a análise da região revela que a conjuntura é favorável para a renda variável europeia. Na opinião de Mac Elatab e Lee Sotos, gestores de fundos da Fidelity International, sem dúvida essa classe de ativo exibiu força neste ano, reforçada por uma política monetária expansionista, avaliações atrativas e uma melhora na confiança.
“No plano da inflação, o BCE tenta ponderar as pressões derivadas de um euro mais forte com o aumento do gasto público e problemas nas cadeias de suprimentos. Esses sinais da política monetária, somados a dados macroeconômicos estáveis e a um modesto crescimento do PIB, criam um ambiente propício para as bolsas europeias. As empresas continuam otimistas e esperam melhorias na demanda dos consumidores e uma expansão das margens. Apesar dos fortes ganhos, as avaliações continuam atrativas em comparação às dos EUA, e o mercado europeu oferece oportunidades interessantes para investidores que se concentram em empresas de qualidade com sólidas perspectivas de lucros e crescimento”, defendem os gestores da Fidelity International.
Momento para entrar
A UBS Global Wealth Management (UBS GWM) considera que é um bom momento para entrar em renda variável da zona do euro. Segundo sua análise, à medida que o fim de novembro se aproxima, o sentimento em relação à renda variável europeia tornou-se mais volátil. “O índice de volatilidade do Stoxx 50 subiu ao seu nível mais alto em um mês, e os principais mercados da região, da Alemanha à França, voltaram a sofrer pressão na semana passada”, destacam.
Ainda assim, avaliam que essa mudança de humor do mercado não está totalmente justificada. De fato, a instituição melhorou sua recomendação para a renda variável da zona do euro para Atrativa, apoiada em três fatores principais: as perspectivas cíclicas da Europa estão melhorando; sua posição estrutural é a mais sólida em 15 anos; e as avaliações são razoáveis e o crescimento dos lucros deve acelerar.
“Acreditamos que é um bom momento para que os investidores considerem aumentar sua exposição à renda variável da zona do euro, que elevamos para uma classificação ‘atrativa’. Favorecemos uma combinação de beneficiários estruturais e cíclicos, incluindo os setores industrial, tecnológico e de utilities europeus, que acreditamos se beneficiarão de tendências globais como IA, transição energética e aumento dos gastos em defesa”, afirma Mark Haefele, Chief Investment Officer da UBS GWM.
Segundo Haefele, sob uma perspectiva cíclica, também elevam para atrativo o setor bancário europeu, apoiado por maior crescimento do crédito, revalorização dos ativos e sólidos retornos ao acionista. “O setor imobiliário e a renda variável alemã também se destacam, impulsionados por juros baixos do BCE e uma política fiscal mais flexível”, comenta. Por fim, o BlackRock Investment Institute (BII) acrescenta: “Gostamos dos setores financeiro, de serviços públicos e de saúde, e para o longo prazo observamos oportunidades em defesa, industriais e em áreas vinculadas à IA”.




