Apesar dos desafios que o Chile enfrenta no curto e médio prazo, os investidores confiam no potencial que o país apresenta. Isso ficou claro no painel “Por que investir no Chile?” do evento Chile Day Madrid, realizado na Casa América, na capital espanhola.
Nesta mesa de especialistas, moderada por Soledad Vial, editora de Economia e Negócios do El Mercurio, foram discutidos os pontos fortes e as necessidades para o crescimento da economia chilena. Rosario Navarro, presidenta da Sofofa federação empresarial privada do Chile — abriu o debate lembrando os pontos fortes do país, principalmente um “ambiente privilegiado”, com grande “potencial geológico”. Também destacou a progressiva redução da pobreza, um PIB relevante e uma infraestrutura em desenvolvimento.
Para David Ruiz de Andrés, CEO da Grenergy, as razões para investir no Chile são claras: o país conta com uma política estável em energias renováveis, que ele classifica como “fundamental”. Além disso, sua abertura ao investimento internacional e a capacidade de ser “uma referência” como laboratório em setores como, por exemplo, o armazenamento elétrico. “Conta com cobre, lítio e o melhor recurso solar do mundo”, aponta Ruiz de Andrés, que adiantou que o país “pode se tornar um grande exportador de dados”.
Já Vicente Huertas, diretor-geral do Indra Group Peru, Chile e Cone Sul, destacou que o Chile continua sendo um país de referência, especialmente na digitalização. Ele também mencionou a mobilidade, com “comunicações de excelência”, e enfatizou a estabilidade regulatória para atrair investimentos de longo prazo. Da mesma forma, Cristián Infante, CEO da Arauco, fez questão de ressaltar que “o atrativo do Chile continua”, apesar de a companhia já ter iniciado sua diversificação geográfica com a entrada no Brasil.
Em relação aos desafios, os participantes coincidiram na necessidade de o Chile impulsionar o crescimento econômico. “O país precisa recuperar o dinamismo que tinha quando chegamos aqui”, afirmou Ruiz de Andrés, acrescentando ainda que o Chile “precisa acreditar no potencial que tem, que é enorme”. Nesse ponto, citou como exemplo seu projeto “Oasis Atacama”, para o qual a empresa levou ao país 12 bancos internacionais.
Também houve comentários sobre a relação dos investidores com os governos locais e nacional, bem como com as comunidades. “Conheço mais ministros no Chile do que na Espanha”, reconheceu Ruiz de Andrés. Já Infante destacou o papel dos governos locais no apoio aos investimentos, de modo que “se gera um círculo virtuoso”. Tanto ele quanto Ruiz de Andrés ressaltaram a atenção que suas empresas dão às comunidades. Para Infante, esse processo acaba sendo “um aprendizado, porque quando há diálogo com a comunidade e ela passa a conhecer você, acaba apoiando sua atividade”.
Huertas concentrou-se nos avanços regulatórios em cibersegurança, inteligência artificial, entre outros, “que vão favorecer o desenvolvimento dessas capacidades”. Navarro, por sua vez, destacou que há muitas boas práticas trazidas para o Chile que “melhoraram os padrões” e incentivou a manter altos níveis de exigência no relacionamento com as comunidades locais onde os projetos são desenvolvidos.
Perspectivas eleitorais
A mesa-redonda também abordou as dúvidas e expectativas das empresas em relação às eleições que acontecerão no país no fim do ano. De forma geral, o resultado não preocupa os palestrantes. Ruiz de Andrés acredita no início de um ciclo em que o Chile passe a acreditar em suas capacidades, enquanto Infante disse que ficaria satisfeito se o país parasse de enxergar o “copo meio vazio”. Nesse sentido, lembrou que o Chile “tem uma base sólida e todos os candidatos estão conscientes dos desafios a serem enfrentados”.
Os 25 anos de atuação da Indra no país são, para Huertas, uma garantia ao afirmar que “não tememos as eleições”. Ele explicou que a onda de cibersegurança e digitalização “são questões de Estado” que vão além de governos específicos e não tem dúvida de que esses temas “serão um eixo de crescimento”.
Navarro compartilha a mesma visão. “O mundo empresarial investe no longo prazo, portanto atravessa vários governos”, afirmou. Mais ainda, vê consenso de que o Chile precisa voltar a crescer “mas não de qualquer forma”.
Quanto às prioridades que os painelistas esperam do novo governo, Huertas sugere a necessidade de uma maior “integração territorial”, já que percebe uma brecha digital e “é preciso modernizar os sistemas”. Ruiz de Andrés, por sua vez, enxerga um “grande descompasso” entre a formação dos cargos de direção e o restante do pessoal nas empresas. “É preciso favorecer a mobilidade social”, concluiu.
Infante pediu aos candidatos “leis eficientes” que permitam “desenvolver projetos”, já que, segundo ele, “a forma de conseguir recursos não é por meio de mais impostos”. Navarro, por sua vez, afirmou que o Chile precisa melhorar sua competitividade, tanto tributária quanto em licenças de atividade e no âmbito trabalhista, além de em produtividade. Ela também destacou a necessidade de mudanças no sistema educacional, já que “a forma como educamos não funciona”, apontando a formação dual como solução para esse problema.