O banco BNP Paribas vê um futuro com forte crescimento do setor de infraestrutura, expansão acelerada da indústria de ETFs e um cenário econômico que, apesar da resiliência acima do esperado, ainda exige cautela do Banco Central, especialmente diante das incertezas fiscais e do impulso de renda que marcará o início do ano que vem, ante as mudanças sobre o IR.
Diante desse cenário, a gestora estrutura uma nova geração de fundos que dialoga diretamente com o ciclo de crescimento esperado no país, especialmente nos setores de infraestrutura — que na visão do banco, é independente do resultado das eleições de 2026.
Esse conjunto de produtos nasce para capturar os investimentos, projetados pelo banco, em saneamento, mobilidade urbana, infraestrutura digital e transmissão de energia — e vai também combinar, pela primeira vez, o crédito privado brasileiro com estratégias internacionais da casa.
Aquiles Mosca, CEO da Asset, que administra cerca de R$ 70 bilhões no Brasil, explica que a casa tem trabalhado em estruturas híbridas que conectam o investidor local ao alcance global do grupo. “Estamos trabalhando para estruturar mais fundos que possam capturar essa tendência, combinando estratégias locais com oportunidades no exterior”, diz. As falas foram feitas durante almoço entre os executivos do banco e a imprensa, promovido nesta terça-feira (2), na sede da operação brasileira do BNP Paribas, em São Paulo.
Fundo de infraestrutura global
Ele detalha que a gestora está montando fundos desenhados para a agenda de infraestrutura, mas também produtos que misturam o mercado brasileiro ao internacional. “Outra coisa que a gente está fazendo vai justamente na linha de um fundo de crédito privado, combinado com exterior. É uma estrutura que une crédito privado brasileiro com crédito global, usando o nosso alcance lá fora”, afirma.
Mosca observa que essa linha de desenvolvimento está em total sintonia com a leitura de Ricardo Guimarães, CEO do banco, sobre o novo ciclo de investimento do país: “O Ricardo trouxe o ponto da infraestrutura liderando os investimentos. E é exatamente isso que estamos vendo e para onde estamos empurrando nossos produtos. É onde vai estar a demanda.”
Segundo ele, o reforço de capital vindo da matriz permite à gestora ampliar o leque de produtos e acelerar soluções que conectam o investidor brasileiro ao portfólio internacional do BNP Paribas.
Parte desses novos fundos, acrescenta, terá distribuição facilitada por meio de plataformas brasileiras no exterior — uma agenda que vem sendo estruturada desde o início do ano. “Estamos abrindo a possibilidade de incluir nossos fundos nas plataformas brasileiras no exterior, como Avenue. Isso amplia muito a nossa capacidade de distribuir essas estratégias híbridas”, afirma.
Gestora do BNP captou R$ 2 bilhões em 2025
A expansão dos produtos acontece em um ano de virada para a gestora. O BNP Paribas AM registrou quase R$ 2 bilhões em captação positiva, segundo a Anbima, muito concentrada no segundo semestre.
Mosca afirma que esse fluxo está intimamente ligado ao apetite por crédito privado. “A virada acontece a partir de setembro, quando o fluxo volta a ficar positivo, muito concentrado no crédito privado”, disse. Ele reconhece que, por ora, o investidor local segue preso a essa classe de ativos, enquanto os estrangeiros têm sido mais rápidos em diversificar. “É aquela banda que toca só uma música. E o investidor estrangeiro entendeu mais rápido esse cenário”, afirmou.
A visão apresentada por Mosca dialoga diretamente com o diagnóstico traçado pelo CEO do BNP Paribas Brasil, Ricardo Guimarães, que vê o setor de infraestrutura como o principal vetor de investimentos no país nos próximos anos.
Para Guimarães, há uma combinação rara de fatores que favorece um novo ciclo, envolvendo saneamento, infraestrutura digital, mobilidade urbana e o setor de energia — com destaque para transmissão.
“A agenda de infraestrutura está muito forte no Brasil. Temos todas as condições para uma aceleração estrutural nos próximos anos”, avaliou. Ele também ressaltou que empresas brasileiras têm buscado cada vez mais o mercado internacional de dívida, movimento que se intensifica pela capacidade do BNP Paribas de oferecer no país o mesmo portfólio global disponível a seus clientes estrangeiros.
ETFs avançam no país, diz banco
O avanço do banco em plataformas de investimento também tem sido acompanhado por um crescimento expressivo no mercado de ETFs. Malu Gregório, líder de Securities Services, afirma que o segmento viveu um ano particularmente forte, impulsionado pela entrada de investidores estrangeiros e pelas mudanças regulatórias trazidas pela CVM 373.
O BNP lançou oito ETFs ao longo do ano e deve lançar mais seis até o fim do próximo. “Somos muito procurados pela inteligência que oferecemos para apoiar os players de ETFs”, disse. A executiva observou que a criatividade dos gestores tem sido um dos motores dessa expansão, lembrando que, dos oito ETFs lançados, três são de criptomoedas, com mais três previstos para chegar ao mercado no fim do ano.
Para ela, o crescimento da indústria de ETFs também aprofunda a discussão sobre transparência e pavimenta a migração gradual para um modelo de distribuição fee based: “A conversa de ETF é muito relevante nesse sentido, e vemos esse movimento ao longo do tempo”.
Corte de juros só em março, projeta banco
A economista-chefe para a América Latina, Fernanda Guardado, afirmou que o Banco Central não deve iniciar um ciclo consistente e crível de cortes de juros antes de março, em razão da combinação entre incerteza fiscal, impulso de renda no início do ano e a necessidade de preservar a credibilidade da política monetária. “Eles só terão condições de começar um ciclo de forma crível e consistente a partir de março”, disse.
Ela explicou que a economia brasileira vem exibindo um nível de resiliência acima do antecipado, o que exige cautela adicional da autoridade monetária. “A economia brasileira tem mostrado uma resiliência além do que a gente esperava”, afirmou, apontando que isso reforça a postura conservadora do BC.
Fernanda destacou que a inflação deve convergir para algo próximo a 3% nos horizontes relevantes, o que representa uma condição importante para que o processo de queda de juros possa avançar. Segundo ela, até lá, o Banco Central precisará observar a formação de núcleos de inflação mais benignos por mais tempo: “Você terá atingido três trimestres já de um núcleo em 5% e poderá observar, com mais confiança, se a economia está acelerando ou não, ou se vai ficar compatível com o que você espera.”
A economista alertou para o forte impulso de renda disponível que ocorrerá em janeiro — combinação de reajustes salariais de 2,5% acima da inflação e do aumento de renda para trabalhadores que ganham até R$ 7.350 — e que pode gerar pressão adicional de demanda. “Isso vai ser um impulso de renda disponível e, portanto, um impulso de demanda”, explicou. Nesse contexto, afirmou que o BC precisará “se resguardar”, já que ainda não se sabe exatamente como a atividade vai atravessar a virada do ano.
Fernanda enfatizou que, diante desse quadro, o tempo é um componente crucial. “O Banco Central precisa de tempo”, disse. “Uma parte importante desse ciclo é a preservação de credibilidade.” Para ela, antecipar o movimento diante de tanta incerteza representaria um risco alto para um retorno baixo: “A economia contabiliza um risco alto para uma recompensa baixa
