Em 19 de maio de 2025, a Coinbase será oficialmente incorporada ao S&P 500, tornando-se a primeira grande plataforma cripto a fazer parte do índice bursátil mais emblemático do mundo. Para os especialistas do universo cripto, esse marco representa uma validação institucional sem precedentes para o setor de ativos digitais.
“Não se trata de um gesto simbólico, mas de uma confirmação estrutural: a Coinbase superou os rigorosos critérios de estabilidade, liquidez e rentabilidade exigidos pelo comitê do índice, que só admite empresas consolidadas da elite corporativa americana”, aponta Dovile Silenskyte, diretora de Pesquisa em Ativos Digitais da WisdomTree.
O fato é que a entrada da Coinbase coincide com um momento de forte dinamismo no mercado: o bitcoin superou os 100 mil dólares e as altcoins — como Solana, Ether e XRP — estão recebendo grandes fluxos de capital. “Isso reforça o renovado interesse dos investidores no ecossistema cripto, e a inclusão no S&P 500 implica que a Coinbase começará a canalizar fluxos passivos oriundos de trilhões de dólares que replicam esse índice”, acrescenta Silenskyte.
Na primeira semana de maio, o bitcoin superou com força os 100 mil dólares e está muito próximo de sua máxima histórica de 110.400 dólares. “As altcoins também subiram, em alguns casos superando até o desempenho do bitcoin. O Ethereum, por exemplo, ganhou 28% em relação ao bitcoin na semana passada, impulsionado tanto pelo acordo comercial quanto pelo bem-sucedido lançamento da aguardada atualização ‘pectra’ na rede principal do Ethereum. No extremo mais especulativo do mercado, os memecoins registraram altas ainda mais acentuadas, em alguns casos de até 125%”, aponta Simon Peters, analista da eToro.
Ainda assim, os especialistas continuam cautelosos, e neste rali vivido pelos criptoativos há algumas nuances. Por exemplo, Manuel Villegas, analista de Pesquisa Next Generation no Julius Baer, lembra que o Ethereum não é para a prata o que o Bitcoin é para o ouro. “Seus impulsionadores fundamentais são muito diferentes. Embora no curto prazo as condições macroeconômicas voláteis — e ruidosas — possam ocultar esses diferentes fatores, fazendo com que o Ethereum atue como uma versão de alta beta do Bitcoin, no longo prazo prevalecerão os fundamentos próprios de cada token. Os fluxos para ETFs de Ethereum têm sido mínimos — na melhor das hipóteses. Ao mesmo tempo, vemos claramente um interesse institucional na gestão de garantias e nas stablecoins, onde pode se concentrar uma atividade significativa no Ethereum. Enquanto isso, seu fornecimento continua inflacionário, já que a atividade na rede ainda é limitada”, lembra Villegas.
O caso da Coinbase
Focando na Coinbase, vale destacar que a empresa, que sobreviveu ao mercado em baixa e à pressão regulatória de 2022–2023, conseguiu se transformar: reduziu custos, diversificou receitas para atividades como staking, custódia e infraestrutura blockchain, e gerou lucros GAAP em 2024, o que consolidou sua elegibilidade.
“Essa incorporação acelera a institucionalização do mundo cripto e elimina barreiras para os investidores tradicionais, que agora veem na Coinbase uma via legítima para acessar o setor. Ao mesmo tempo, envia um sinal claro às firmas financeiras tradicionais: Wall Street já não observa à distância, agora participa, aloca capital e se expõe — mesmo que de forma passiva — ao cripto. O que antes era marginal, hoje é parte integrante da arquitetura financeira global. Os criptoativos já não batem à porta do sistema: entregaram-lhe as chaves”, afirma Silenskyte.
Mercado em alta
As condições atuais do mercado são dominadas por fatores macroeconômicos e geopolíticos, o que sugere que a volatilidade impulsionada por fatores externos continuará presente. Em relação a essa classe de ativos, supõe-se que a regulamentação cripto nos EUA e no Reino Unido continuará sendo um dos fatores mais relevantes para o restante do ano, sendo as stablecoins o tema-chave nos EUA e os ETFs à vista a prioridade principal no Reino Unido.
Segundo o Julius Baer, o rali do mercado cripto reflete uma melhora no sentimento de risco, impulsionada pela redução das tensões comerciais entre EUA e China. Dovile Silenskyte explica que o aumento do preço do bitcoin se baseia fundamentalmente em sua escassez, com uma demanda institucional que supera a oferta. Enquanto isso, devido a fatores fundamentais distintos, é provável que o Ethereum continue a se distanciar do bitcoin no longo prazo, apesar de estar atualmente influenciado por tendências macroeconômicas semelhantes. “A evolução regulatória nos EUA e no Reino Unido será um fator-chave que influenciará o mercado daqui para frente. Os investidores devem agir com cautela, pois a volatilidade impulsionada por fatores macro continuará presente”, ressalta.
Segundo sua visão, o ânimo no mercado cripto parece ter mudado significativamente, em linha com o melhor sentimento nos mercados financeiros após sinais de alívio nas tensões comerciais entre EUA e China. “Dito isso, tanto o bitcoin quanto o ethereum também se valorizaram devido a múltiplas aquisições que ocorreram em segundo plano, entre as quais o anúncio da Coinbase da compra por 2,9 bilhões de dólares da plataforma de negociação de opções Deribit (não listada) marcou um ponto de inflexão na pausa que havia na atividade de fusões e aquisições no setor cripto”, conclui o analista do Julius Baer.