Os ETFs começam a entrar no portfólio dos brasileiros: o número de investidores pessoa física saltou de 42 mil para 666 mil em sete anos, e somente em 2025 foram lançados 53 novos ETFs na B3. Mesmo assim, a penetração do produto ainda é menor que em mercados desenvolvidos, e uma análise da B3 identifica cinco fatores que podem impulsionar essa evolução.
O vice-presidente de Produtos e Clientes da B3, Luiz Masagão, afirma que o produto vem ganhando representatividade. “Este é um produto que representa uma transformação estrutural, por oferecer acesso a produtos sofisticados com baixo custo, liquidez e transparência”, disse. Ele destaca que o patrimônio da indústria atingiu R$ 75 bilhões, com listagens semanais ao longo do ano. “Praticamente toda semana as gestoras estão conosco na bolsa, listando um novo ativo que pode ser negociado por todos os tipos de investidores”, afirmou.
Ainda assim, apenas 10% dos investidores brasileiros possuem ETFs na carteira — percentual abaixo do observado nos Estados Unidos, onde cerca de 50% das pessoas investem no produto, e da Europa, com 20%. O Brasil soma 162 ETFs listados, enquanto o mercado norte-americano já supera 4.000 fundos de índice.
O estudo, produzido de forma independente durante participação no IFC-Milken Institute Capital Markets Program, mapeia cinco elementos que ajudaram a impulsionar a adoção de ETFs em outros mercados e que podem orientar o crescimento local.
1. Cultura de investimento de longo prazo
Nos Estados Unidos, 77% dos investidores de ETFs têm foco em aposentadoria, favorecidos por taxas de juros estruturalmente baixas. No Brasil, ETFs de renda fixa e de criptoativos ganharam espaço. A B3 afirma que estimula a listagem de diferentes classes de ativos e amplia o acesso a ferramentas de comparação de desempenho, como o comparador de ETFs no site Bora Investir.
2. Incentivos a assessores e corretoras
O modelo fee-based, predominante nos EUA, incentiva a recomendação de ETFs: cerca de 70% dos profissionais indicam o produto aos clientes. Em 2023, 71% da receita dos assessores veio desse modelo, com projeção de chegar a 76% em 2025. O processo de migração levou cerca de seis anos e envolveu três frentes: “planejar”, “comunicar” e “migrar”. No Brasil, a Resolução 179 da CVM deve ampliar transparência e favorecer uma transição gradual.
3. Experiência do usuário
Corretoras nos EUA e Europa utilizam duas abordagens tecnológicas: Model Portfolio, com algoritmos que sugerem carteiras únicas de ETFs baseadas no perfil do investidor; e ETF Savings Plan, com aportes mensais automáticos escolhidos pelo próprio investidor. O estudo aponta que, na Europa, o aporte médio mensal é de 136 euros, com 10,8 milhões de planos ativos em 2024, volume que pode chegar a 32 milhões em 2028.
4. Diversidade e promoção de ETFs
Mercados mais desenvolvidos apresentam ampla divulgação dos produtos e diversidade de classes de ativos. Em 2024, 77% das novas listagens nos EUA foram de ETFs ativos. No Brasil, o desenvolvimento inclui ETFs de criptoativos (lançados antes do mercado norte-americano), ETFs com proventos e ETFs híbridos, que combinam renda fixa e variável. ETFs ativos ainda não existem no país, mas o tema está em discussão.
5. Neutralidade tributária
Em mercados maduros, a tributação entre investir em ETFs e nos ativos subjacentes é equivalente. No Brasil, há diferenças importantes: ETFs de renda variável são tributados em ganho de capital e dividendos sem isenção para volumes pequenos, enquanto ações têm isenção de vendas até R$ 20 mil (US$ 3.700) por mês e dividendos isentos. ETFs de renda fixa têm tributação regressiva baseada no prazo médio da carteira e não sofrem IOF nem come-cotas.
Perspectivas
Masagão afirma que, apesar do avanço, há espaço para expansão. “Os ETFs podem revolucionar o mercado de investimentos por sua simplicidade e possibilidades de diversificação, permitindo que as pessoas físicas experimentem uma infinidade de classes de ativos com poucos cliques no home broker da corretora”, disse. Para ele, os 21 anos de indústria no Brasil representam apenas o início do potencial de crescimento.
