A distribuição de dividendos na Europa atingiu níveis recordes no segundo trimestre do ano. Isso se deve principalmente ao bom desempenho do setor financeiro, segundo Viktor Nossek, diretor de Análise de Investimentos e Produtos na Vanguard Europa. “O segundo trimestre foi especialmente sólido para a Europa, onde as distribuições aumentaram 10% em relação ao mesmo período do ano anterior. As empresas europeias — excluindo o Reino Unido — distribuíram 261 bilhões de dólares, 23 bilhões a mais que em 2024. Isso representa a maior contribuição regional para o crescimento global de dividendos nesse período”, destaca.
Segundo o especialista, essa tendência sazonal, comum na Europa durante o segundo trimestre, foi particularmente forte neste ano. “O repique observado não apenas superou outras regiões como América do Norte, China ou Japão, como também permitiu que a Europa alcançasse números recordes no primeiro semestre. Nesse período de seis meses, as distribuições somaram 311 bilhões de dólares, 8% a mais que no mesmo intervalo do ano anterior”, afirma em sua última análise.
No cenário global, a distribuição de dividendos no segundo trimestre foi de 835 bilhões de dólares, 6% acima do registrado no ano passado. De acordo com Nossek, esse crescimento ajudou a moderar a desaceleração observada no início do ano e estabilizou o crescimento anualizado em 2,2 trilhões de dólares, com um aumento de 8%. Ele também destaca que o enfraquecimento do dólar frente a outras moedas importantes, como o euro, o iene japonês e o dólar australiano, favoreceu o valor dos dividendos em dólares. “Embora a evolução da política comercial e a incerteza sobre as cadeias de suprimento ainda estejam presentes, seu impacto nos dividendos tem sido limitado até agora”, afirma.
No Reino Unido, as distribuições permaneceram estáveis. Nossek explicou que as empresas britânicas foram afetadas pelos resultados financeiros do exercício anterior, o que limitou sua capacidade de aumentar os pagamentos. No total, as companhias britânicas distribuíram 58 bilhões de dólares no primeiro semestre, sem mudanças em relação ao ano passado. Já os mercados emergentes (excluindo a China) apresentaram queda: as distribuições recuaram 4 bilhões de dólares em comparação com o segundo trimestre de 2024.
Em relação aos setores, o crescimento europeu veio principalmente do setor financeiro, com aumento de mais de 29 bilhões de dólares. Também contribuíram o setor industrial (+13 bilhões) e o de saúde (+7 bilhões). Nossek pontuou que esses três setores explicam quase metade do crescimento global dos dividendos no segundo trimestre.
Em contraste, o setor de energia reduziu suas distribuições em 17 bilhões de dólares, e o de materiais básicos caiu 3,5 bilhões, especialmente nos mercados emergentes. O setor de consumo discricionário recuou 1% em relação ao ano anterior, refletindo as pressões que continuam a afetar os gastos dos consumidores.
Perspectivas mistas para o terceiro trimestre
Para os próximos meses, Nossek alertou que pode haver uma moderação no crescimento, sobretudo na Ásia. “Os principais bancos chineses passaram de pagamentos anuais para distribuições semestrais em 2024, o que vai alterar o perfil sazonal dos dividendos”, explica o especialista. Segundo suas previsões, esse ajuste pode fazer com que o volume do terceiro trimestre seja menor do que em anos anteriores. Além disso, ele aponta que o setor de materiais básicos continuará sendo um fator negativo para os números globais, a menos que haja uma recuperação do mercado imobiliário chinês ou mudanças nas tarifas que afetam indústrias-chave como cobre, aço e alumínio.
Por fim, o especialista da Vanguard destaca a importância dos dividendos na rentabilidade de longo prazo: “Desde 1993, o índice FTSE All-World se valorizou mais de 1.200%, dos quais aproximadamente 600 pontos percentuais vêm da reinversão de dividendos”. Em sua opinião, essa parcela do retorno ganhará ainda mais peso em um cenário de incerteza econômica e riscos de estagflação.