Um multi-family office com pilar em análise de ações, a MSX Invest quer oferecer um serviço com base em análise, aliando tecnologia de consolidação de carteiras a uma estrutura independente de consultoria.
“Nosso DNA é de research. Sempre fui analista, com CNPI, e trago essa lógica para a gestão patrimonial”, afirma Marcos Saravalle, estrategista-chefe e CIO da empresa, em entrevista a Funds Society. Recém-lançada, a gestora de patrimônio é tocada por ele e por Alan Ghani, economista-chefe da casa, conhecido por ser comentarista da Jovem Pan News. A MSX ainda com uma participação minoritária da Vita Investimentos, aceleradora de MFOs.
O modelo da MSX, segundo Saravalle, busca gerar alfa com alocação customizada, acesso a produtos alternativos e uma abordagem transparente na relação com o cliente.
A origem da empresa está no mercado de análise. O próprio Saravalle começou a carreira como analista em 2005, com passagens por XP e Banco Safra. “Na XP, eu era praticamente o analista-chefe — porque só tinha eu na época. Fazíamos análise, alocação, tudo. Éramos três pessoas”, recorda. Ele também atuou como estrategista e porta-voz do Safra antes de fundar a MSX, em meio à pandemia. “O research me dá acesso direto aos gestores e aos ativos. Isso abre portas e melhora a qualidade da curadoria”, diz.
Organização via tech
“O maior desafio desse setor é operacional”, afirma Saravalle. Segundo ele, o cliente costuma ter contas em diferentes instituições e ativos repetidos. “Imagine um cliente com três contas: XP, BTG e Itaú. E nas três ele tem Petrobras. Em uma, ele está com preço médio de R$10, outro R$20, outro R$50. E ele não sabe, por exemplo, que tudo isso está dando 50% da carteira dele.”
“Nosso papel é entregar uma visão única e atualizada da carteira, independentemente de onde os ativos estejam”, afirma.
Por isso, uma boa estrutura tecnológica é um dos pilares do modelo da MSX. Segundo Saravalle, a empresa usa uma plataforma da Vita Investimentos para oferecer visão consolidada das carteiras dos clientes, mesmo quando os ativos estão distribuídos em várias instituições.
“Se o cliente tem XP, BTG e Itaú, por exemplo, eu preciso de um consolidador por trás. Essa estrutura é o que torna possível entregar um relatório único com todas as posições do cliente”, explica Saravalle.
A tecnologia da Vita atua como um hub, capturando os dados via APIs, enquanto o Gorilla entra em casos em que o cliente tem conta em instituições sem integração nativa. “A grande dor do nosso setor é operacional. O cliente está com Petrobras em três contas diferentes e não sabe que está com 50% da carteira em renda variável”, exemplifica.
Para Saravalle, essa organização é essencial para traduzir a pergunta central que o cliente faz todos os meses: “A pergunta que eu recebo todo dia é: quanto eu ganhei nesse mês?”. E completa: “Ele ganhou 1% no Itaú, 0,3% na XP, 10% no Bradesco. Mas no Bradesco ele tinha só 5% da carteira. Quando consolida, o resultado é outro.”
AUC: R$ 300 milhões
Atualmente, a MSX conta com cerca de 120 clientes ativos, todos atendidos por uma equipe de 15 pessoas — cinco deles são advisors. O volume sob custódia está em torno de R$ 300 milhões, dos quais R$ 100 milhões estão efetivamente monetizados.
“Temos uma base grande de clientes que veio do nosso research. Agora estamos num processo de formalização e estruturação da consultoria”, diz Saravalle. O ticket médio gira em torno de R$ 1 milhão, com cobrança mínima mensal de R$ 600.
O modelo de remuneração é 100% fee-based, com cashback de parte das comissões de distribuição dos produtos, como fundos de investimento. “Meu contrato é com o cliente. Mas parte das taxas que seriam pagas à plataforma são devolvidas a ele. Dependendo do patrimônio e do produto, o custo pode até zerar”, explica. Segundo Saravalle, a taxa média devolvida fica entre 0,2% e 0,4% ao ano. “Se o cara for muito grande, meu serviço pode sair a custo zero para ele. E de forma transparente.”
A MSX também aposta em uma arquitetura aberta e independente. “Nosso papel não é empurrar produto. O private dos grandes bancos ainda sofre pressão comercial. Vai chegar uma hora em que vão dizer: ‘A campanha do mês é previdência, e é essa aqui’. E o cliente já tem. O assessor então fica amarrado”, critica. Como consultoria, a MSX se diz livre para buscar produtos fora das plataformas tradicionais — inclusive nos mercados alternativos e tokenizados.
Foco nos alternativos
A alocação de ativos da MSX combina renda fixa, variável e uma fatia de investimentos alternativos. Precatórios, por exemplo são uma aposta recorrente, segundo Saravalle. “Temos alocado bastante em precatórios. São ativos que, muitas vezes, rendem 20%, 25%, 30% ao ano, com risco mais de prazo do que de crédito”, diz. Ele explica que o acesso a esses ativos é feito por plataformas como a Hurst Capital e o MB (antigo Mercado Bitcoin), que hoje tem construído um braço de renda fixa digital. “Quando o título é tokenizado, você reduz custo de registro, de estrutura. Isso volta para o investidor em forma de retorno”, afirma.
“Meu trabalho, por ser independente, é procurar alternativas que às vezes estão até fora dos bancos. É assim que a gente gera alfa.”
A empresa também vê valor em ativos totalmente descorrelacionados, como arte. “Arte não tem relação com Ibovespa nem com juros. Às vezes, até valoriza mais em momentos de estresse”, diz. Para isso, a MSX conta com parceria com especialistas da Hurst na área de obras físicas. “O cliente pode ir à galeria, ver a obra. É um processo real, não é só um gráfico.”
Offshore ‘mandatório’ e pró-cripto
A presença de criptoativos é recomendada para todos os clientes, em proporções entre 1% e 3%, a depender do perfil de risco. “Todos os nossos relatórios de alocação têm um percentual de cripto. É um ativo que faz sentido na diversificação”, afirma. Recentemente, a MSX também passou a adicionar ouro a algumas carteiras como proteção adicional.
Investimentos no exterior também são mandatórios. “Offshore para a gente não é alternativo. É o básico”, diz Saravalle. Quanto mais agressivo o perfil do investidor, maior a parcela em ativos globais. A MSX acessa esses mercados via plataformas locais ou por meio da RIA (Registered Investment Advisor) da Vita. “Hoje eu atendo clientes no Morgan Stanley com um sistema que integra as carteiras lá fora ao nosso relatório aqui”, explica.
Para Saravalle, a combinação entre análise e consultoria é o diferencial da casa. “Nosso trabalho é correr atrás dos produtos, validar quem está por trás, testar as plataformas”, diz. Ele afirma que o contato com players locais, por ser analista, é um diferencial. “A gente consegue falar com o gestor, com o analista, consegue fazer call com empresa. Uma posição pequena, mas a gente queria entender. Isso é algo que a gente consegue porque veio do mundo de research.”
“A gente não quer ser mais um escritório vendendo produto. Queremos ser uma consultoria com base analítica, com responsabilidade sobre o que entregamos”.