Conhecida pelo pioneirismo em estratégias sistemáticas, a Constância Investimentos tem ampliado seu foco em diversificação internacional, voltada principalmente ao público institucional — notadamente RPPS e fundos de pensão. Após o lançamento de seu primeiro fundo com alocação internacional em dezembro de 2024, em parceria com a gestora espanhola Arcano Partners, a gestora liderada por Cassiano Leme agora apresenta uma nova estratégia global, desta vez em colaboração com o JP Morgan.
“Queremos ofertar uma estratégia de alocação global para RPPS. Quando se fala em investir internacionalmente, para uma instituição brasileira, surgem diversos desafios: quem será o gestor, quais os ativos, como funciona a dinâmica dos mercados. Seria necessário montar uma equipe inteira”, afirma Leme.
O novo fundo investe em instrumentos do JP Morgan, especialmente ETFs, e segue um modelo de alocação desenvolvido pelo banco. A Constância é responsável pela construção da estratégia, enquanto a alocação é feita com base na inteligência do banco americano.
“Nosso objetivo é entregar uma solução completa. Desenvolvemos a estratégia e utilizamos a inteligência alocativa do JP. Isso oferece ao cliente acesso a ativos e estruturas que, de forma direta, não conseguiria implementar”, diz o CEO. “Queremos trazer algo que não poderíamos montar sozinhos — como uma estratégia de crédito na Europa ou produtos do JP Morgan — e transformar isso em uma oportunidade de acesso institucional.”
Segundo ele, há interesse crescente por produtos internacionais entre RPPS, embora ainda de forma incipiente.
“Existe demanda, mas ainda há muito receio. Entre a vontade de fazer e conseguir executar um processo de alocação de fato, há um intervalo. Estamos tentando encurtar esse caminho, levando conceito, conteúdo e estrutura prontos”, afirma.
Um caminho atípico, com DNA na estratégia sistemática
Fundada em 2009, a gestora da rua Joaquim Floriano, número 100, começou operando com renda variável e cresceu no mercado com uma trajetória pouco comum: no institucional.
“Fomos a primeira firma a fazer um sucesso comercial com as estratégias ditas sistemáticas no Brasil. Utilização bastante intensiva de métodos quantitativos e computação. Fomos pioneiros no Brasil, especialmente no setor de RV”, conta Leme. No entanto, pouco se ouvia falar sobre o tema, o que tornou os passos da gestora pouco usuais.
“Esses caminhos tradicionais estavam fechados para nós. O conceito de sistemático era novo. Eu não tinha track record. Tinha que vender uma ideia, mas só eu gostava dela. O que fiz foi falar com quem falava conosco. Eu tinha um colega na época e íamos de carro para o interior falar com diretores de RPPS. Até que um dia entrou um cheque”, conta Leme. “E que é nosso cliente até hoje, e só aumentou a alocação”, diz, sobre o RPPS do município de Pinhais (PR).
“Fomos crescendo em pequenos institucionais, depois nos maiores. Uma hora conseguimos abrir um canal com os fundos de pensão, crescer no setor e depois nos bancos. Fizemos ao contrário do que as firmas fazem”, relata.
Do setor de seguros ao asset management
O olhar para as estatísticas e dados começou no setor de seguros, em uma trajetória que passou por diversas áreas.
Tendo começado sua trajetória acadêmica no curso de História — que não chegou a concluir — Leme migrou para a Escola de Administração Pública da FGV. Seu primeiro contato com o mercado financeiro ocorreu nos Estados Unidos, quando foi ao país para cursar um mestrado. Lá, ingressou no JP Morgan, nos anos 1990, e, posteriormente, tornou-se diretor financeiro da Medial Saúde, seguradora onde estruturou a operação de abertura de capital.
Foi nesse período que começou seu contato com o mundo quantitativo. “Eu tinha algumas áreas que reportavam para mim, que foram importantes nessa formação. A primeira era a de tecnologia — seguro-saúde é algo muito complexo, e eu precisava lidar com muitos dados”, conta. Um episódio, segundo ele, foi determinante.
“Eu estava nos EUA, numa dessas conferências de empresas, para apresentar o caso da Medial. Depois de mim, subiu ao palco o diretor financeiro da WellPoint, que era a segunda maior dos EUA. Fui falar com ele depois e descobri duas coisas: o orçamento de tecnologia deles era um dos maiores do país, e eles tinham uma área atuarial gigante”, relata. “Descobri que metade da empresa era composta por estatísticos e atuários. ‘Como estamos atrasados no Brasil’, pensei.” Foi o início de uma relação profunda com os dados — que mais tarde seria a base da construção da Constância.
Investimento sólido em tecnologia
A Constância Investimentos opera com uma infraestrutura tecnológica baseada em cloud da IBM, voltada à automação e análise de dados. A gestora já utiliza recursos de inteligência artificial, como machine learning e modelos de linguagem natural. “Estamos começando a aplicar esses modelos para ler dados não estruturados, entender o que aconteceu e qual foi a natureza de determinada transação”, afirma Cassiano Leme, sócio-fundador da gestora.
Um dos focos futuros está na leitura automatizada de sentimento de mercado. “Quero desenvolver sinais que identifiquem o sentimento em torno de uma ação, como fazem algumas casas nos EUA”, diz Leme. “Um modelo de linguagem consegue absorver o que está na imprensa, nas conferências de resultados, nos releases. É um caminho claro que começamos a explorar.”
A equipe da Constância conta com pouco mais de 40 pessoas, sendo 10 delas dedicadas exclusivamente à tecnologia. “Aqui é tecnologia de verdade. Temos uma estrutura interna de desenvolvimento de software, com arquiteto de sistemas, desenvolvedores e especialistas em projeto”, afirma. Segundo Leme, a área de investimentos também é diversa: “Temos doutores em teologia, astrofísica, contabilidade e física. É uma equipe altamente qualificada e eclética.”