Descontada ou não pelos investidores, a degradação da classificação dos Estados Unidos pela Moody’s não deixou de ser um fato impactante, já dentro de um 2025 que está nos acostumando a notícias fortes. Entre toda a enxurrada de comentários, destaca-se uma análise sobre a riqueza feita por Basil Mohr-Elzeki, sócio-diretor da Henley & Partners North America, que revela um aumento incomum no interesse de famílias ricas por alternativas de residência no exterior.
“Os Estados Unidos apresentam um paradoxo fascinante. Sendo o país mais rico do mundo e lar da maior concentração de milionários, os Estados Unidos funcionam simultaneamente como o principal mercado emissor de investimentos e um poderoso ímã para atrair pessoas ricas de todo o mundo”, explica o analista.
Estados Unidos, líder indiscutível em riqueza
Apesar de um início difícil em 2025, os Estados Unidos continuam sendo o líder indiscutível na criação e acumulação de riqueza privada. O país representa impressionantes 34% da riqueza líquida mundial. Os Estados Unidos também abrigam 37% dos milionários do mundo, com pouco mais de 6 milhões de pessoas com alto patrimônio líquido, cada uma com mais de um milhão de dólares em riqueza líquida.
Basil Mohr-Elzeki explica que essa concentração de riqueza se acelerou na última década, com os EUA experimentando um crescimento de milionários de 78% entre 2014 e 2024, tornando-se o mercado com melhor desempenho nesse período, ligeiramente à frente da China, que teve crescimento de 74%. Vale destacar que o restante dos W10 está abaixo de 30% no crescimento de suas populações milionárias residentes.
Esse domínio da riqueza se estende a todos os segmentos. Os EUA abrigam mais de 10.800 dos 30.450 centimilionários do mundo (aqueles com mais de 100 milhões de dólares) e mais de 860 dos 2.650 bilionários do mundo.
O motor da riqueza americana
Vários fatores se combinaram para tornar os EUA o país com melhor desempenho na última década, tanto em crescimento de milionários quanto em crescimento de riqueza per capita.
A notável força do mercado acionário americano teve impacto especial, já que o centimilionário médio dos EUA possui mais de 50% de seu patrimônio líquido em ações americanas. O país também experimentou forte crescimento patrimonial em centros de rápido desenvolvimento, como Scottsdale, Área da Baía, Washington D.C., Austin, Dallas e várias cidades da Flórida, como West Palm Beach, Miami e Tampa.
O domínio dos Estados Unidos nos setores tecnológicos de alto crescimento garante vantagens significativas sobre a Europa. Quase todas as principais empresas de tecnologia do mundo estão sediadas nos Estados Unidos, impulsionando um mercado de capital privado em expansão com o surgimento de um grande número de startups unicórnios americanas.
O poder de atração dos EUA sobre os milionários e a busca por mais opções
Talvez o mais revelador seja a persistente atração que os EUA exercem sobre milionários migrantes. Somente em 2024, os Estados Unidos atraíram aproximadamente 3.800 pessoas com alto patrimônio líquido, 95 centimilionários e 10 bilionários; estes dois últimos são particularmente significativos, já que geralmente são fundadores de empresas e empreendedores. Prevemos que esse número será significativamente maior este ano.
Apesar dessa riqueza, “estamos presenciando um interesse sem precedentes por parte dos cidadãos americanos em obter opções alternativas de residência e cidadania no exterior”, afirma o especialista.
Os dados da Henley & Partners revelam um aumento de 183% nas consultas de cidadãos americanos ao comparar o primeiro trimestre de 2024 com o primeiro trimestre de 2025. Vale destacar que registramos um aumento de 39% nas consultas de investidores americanos no primeiro trimestre de 2025 em comparação com o quarto trimestre de 2024, o que demonstra um crescimento sustentado além da resposta inicial ao ciclo eleitoral.
“Nossos números de solicitações oferecem maior contexto: até agora em 2025, os cidadãos americanos representam mais de 30% de todas as solicitações de migração de investimento apresentadas por meio da Henley & Partners — quase o dobro do total combinado das cinco nacionalidades seguintes, que incluem turcos, indianos e britânicos”, diz a nota.
Essa mudança reflete a evolução das perspectivas entre os americanos com alto patrimônio líquido. A maioria vê a migração de investimento como uma gestão de risco sofisticada, criando um “Plano B” que oferece a eles e suas famílias a opção de se realocar se necessário ou desejado. As motivações incluem a diversificação de risco geopolítico, maior mobilidade global, expansão de negócios, acesso a educação e saúde alternativas, e planejamento sucessório transfronteiriço para as futuras gerações. Eles buscam residências e cidadanias alternativas para americanos ricos, incluindo, entre outros, a região da Europa, Caribe e Pacífico Sul.
Sucesso do EB-5 nos Estados Unidos
Enquanto os americanos garantem opções no exterior, os Estados Unidos mantêm sua posição como destino principal para a migração global de pessoas com alto poder aquisitivo. O Programa de Investidores Imigrantes EB-5 dos EUA continua demonstrando uma impressionante permanência.
Desde 1990, esse programa facilitou mais de 55 bilhões de dólares em investimento estrangeiro direto de investidores imigrantes criteriosamente selecionados, gerando cerca de 1,4 milhão de empregos nos EUA e contribuindo com bilhões de dólares em receitas fiscais. Todos esses benefícios foram obtidos sem custo para os contribuintes americanos.
Esse desempenho consistente reforça o apelo duradouro dos Estados Unidos para investidores globais que buscam oportunidades e potencial de crescimento. O interesse por esse programa cresceu de forma constante, com aumento de 325% nas consultas entre 2019 e 2024. Atualmente, ele ocupa a sexta posição entre os programas mais requisitados da Henley & Partners e o quarto programa de residência mais popular.
A dupla dinâmica dos EUA como principal fonte e destino de migração de investidores reflete a posição única do país no ecossistema global da riqueza. Essas tendências, longe de se contradizerem, mostram a crescente sofisticação da mobilidade da riqueza.
Os americanos ricos estão cada vez mais buscando opções estratégicas por meio da migração por investimento e, ao mesmo tempo, os Estados Unidos mantêm forte apelo global para investidores e empreendedores. Esse aparente paradoxo não indica um declínio, mas sim demonstra a contínua evolução dos Estados Unidos como o principal centro de riqueza do mundo.