A indústria de ETFs no mundo está em plena expansão e esse crescimento deverá se manter por vários anos, diante das vantagens que esses mecanismos de investimento oferecem aos mercados. Tanto é assim, que se espera inclusive que, com o tempo, tomem espaço de outros veículos como fundos mútuos e notas estruturadas.
Na cúpula de ETFs organizada pela S&P Dow Jones e a Bolsa Mexicana de Valores (BMV), debateu-se sobre o futuro dos ETFs, seu papel na convivência com outras ferramentas de investimento e os fatores que os tornam atrativos e, por isso, impulsionam o crescimento dos ETFs em todo o mundo.
Durante o painel “A evolução da gestão de patrimônio no México: panorama atual e direção futura”, moderado por Alicia Arias, Diretora Comercial da LAKPA e Cofundadora da Mulheres em Finanças capítulo México, com a participação de Nicolás Gómez, Managing Director, Head of ETF (iShares) and Index Investments for Latin America, BlackRock, e Juan Hernández, Diretor-Geral da Vanguard América Latina, o tema dos ETFs e seu futuro teve papel de destaque.
“Os ETFs ativos vão crescer muito, mas não o farão como substitutos dos ETFs indexados, e sim crescerão às custas da indústria de fundos mútuos ativos e da indústria de notas estruturadas”, explicou Nicolás Gómez.
“Acredito que a razão para o grande crescimento dos ETFs ativos vem do mundo do Wealth Management, porque já não é necessário o principal atributo dos fundos mútuos, que é o rebate de comissão; então, se isso já não é necessário, pode-se comparar, em um portfólio, um fundo mútuo ativo classe institucional, classe limpa, com uma mesma estratégia, mas num ETF ativo”, explicou.
O que se observa são as vantagens do ETF, sendo a principal o preço intradiário. Ou seja, pode-se comprar no momento em que está cotando. Em contraste, ao comprar um fundo mútuo, não se sabe a que preço está sendo adquirido, pois não é pelo preço do momento nem do final do dia, mas sim pelo preço do dia seguinte, e deve-se considerar as volatilidades, o que torna extremamente complexo operar fundos mútuos, já que é como operar às cegas, apontaram ambos os painelistas.
“Por isso, como não se necessita mais do atributo do rebate, veremos a indústria de fundos mútuos ativos migrar para ETFs ativos – assim como a indústria de notas estruturadas – pois com um ETF que simula a mesma coisa, temos liquidez, já que pode ser vendido a qualquer momento e não há risco de contraparte, já que ao possuir um ETF, passa-se a ser dono dos ativos subjacentes, ou seja, do beta ali dentro mais as opções listadas”, explicou Gómez.
Outro tema relevante é a mobilidade e a regulamentação do mercado. Hoje em dia, são registrados entre 1,5 e 2 trilhões de dólares de fluxos para ETFs, contra saídas de 400 milhões de dólares dos fundos mútuos. Parte disso são conversões, com gestores já tendo convertido vários milhões de dólares de seus fundos mútuos em ETFs, entre eles as empresas representadas no painel, ou seja, iShares e Vanguard.
Dos 600 ETFs lançados no ano passado, 400 foram ETFs ativos. A indústria de gestão ativa está inovando com os ETFs e, segundo os especialistas, o que provavelmente acontecerá é que os reguladores aprovarão que seja possível, a partir de um fundo mútuo, criar novas séries, e que essas novas séries sejam ETFs. Quando isso acontecer, a grande maioria dos fundos mútuos ativos com valor comercial terão também um ETF.
Mundo cripto e ETFs também em expansão
Na indústria de criptoativos, o panorama de crescimento também é positivo, incluindo, naturalmente, os ETFs ligados a esse mercado. “Há três dinâmicas acontecendo: a primeira é que continuará a adoção por parte do que chamamos de ‘baleias’, ou seja, pessoas que já fizeram suas fortunas na indústria cripto, que possuem bitcoin, por exemplo, e que pouco a pouco começam a preferir ter seus ativos dentro de um ETF, no mesmo lugar onde possuem seus títulos, ações, etc.”, apontou Nicolás Gómez.
“A segunda é o mundo da assessoria, que sabe que há 2,2 trilhões de dólares de capitalização de bitcoin, de modo que a gestão está interessada em incluir os ativos ou criptoativos de bitcoin para monetizar. A terceira é que, cada vez mais, a indústria financeira tradicional entende o papel do bitcoin nos portfólios e seus fundamentos, que são muito diferentes do resto do mercado — por exemplo, a oferta limitada. Tem sido um longo caminho, mas as diferentes gestoras estão em processo de definir suas estratégias”, explicou o painelista.
Assim, os modelos de portfólio devem focar na parte comportamental, na gestão patrimonial e no planejamento financeiro, para que os assessores de investimento e as próprias gestoras se concentrem em atividades que agregam mais valor ao investidor.
A Vanguard encerrou o painel com um dado que pode confirmar essa teoria, ao indicar que estima-se que, nos Estados Unidos, cerca de 50% de todos os fluxos de ETFs vêm de portfólios modelo próprios ou de diferentes gestoras — uma tendência que deverá continuar, confirmando o avanço indiscutível dos ETFs e do mercado.
Futuro nos alternativos
Sem dúvida, a indústria de ativos alternativos também tem futuro. A tecnologia os impulsionou e alguns fundos semilíquidos já estão presentes nos portfólios de pessoas físicas, deixando de ser uma classe de ativos quase exclusiva de grandes investidores. Para termos uma ideia, a indústria já vale quase 20 trilhões de dólares, sendo 40% em private equity, contra 5 trilhões há apenas cinco anos.
“É muito importante, entretanto, dizer que se trata de uma classe de ativos diferente, com iliquidez, como já vimos no que aconteceu nos Estados Unidos, e há um prêmio por essa liquidez; mas, sem dúvida, outro ponto muito importante é o fato de haver uma grande dispersão de retornos entre os melhores gestores e os medianos em relação aos mais fracos”, disse Juan Hernández, diretor da Vanguard América Latina.
“Portanto, eu diria que sim, alternativos sim, mas com cuidado na alocação, pois há um prêmio de iliquidez e também é preciso assegurar o acesso aos melhores gestores e produtos”, comentou o diretor da Vanguard América Latina.