O investimento das empresas latino-americanas na Espanha alcançou 66,84 bilhões de euros e aumentou 103% desde 2010. Esses números colocam a Espanha como o segundo destino mundial dos investimentos das empresas latino-americanas, enquanto a entrada de capital latino-americano no país se desenvolve de maneira “particularmente intensa” desde o ano de 2010, com um crescimento de 103%, seguindo uma tendência crescente desde então. É o que indicam os dados reunidos na sétima edição do relatório Global Latam 2025, liderado pelo ICEX – Invest in Spain junto com a Secretaria-Geral Ibero-Americana (SEGIB), apresentado pela conselheira delegada do ICEX Espanha Exportação e Investimentos, Elisa Carbonell, e pelo secretário-geral ibero-americano, Andrés Allamand.
O relatório apresenta a origem, destino e setores do investimento latino-americano na Espanha e inclui, pela primeira vez, o Índice Global Latam de Multilatinas, que mede as companhias latino-americanas mais internacionalizadas. Analisa, ainda, o papel da Espanha como ponte para a Europa para essas empresas e incorpora uma radiografia sobre o investimento latino-americano em nosso país. Nesse sentido, explica que o “crescimento do desembarque” do capital latino-americano na Espanha é um “fenômeno estrutural” que conta com inúmeros fatores de impulso e que permitem antecipar um crescimento maior nos próximos anos.
Nesse sentido, o relatório argumenta que a Espanha, como um mercado de renda alta de tamanho médio (quarto europeu em população, com 48 milhões de pessoas), oferece acesso ao mercado europeu, o maior mercado do mundo de renda média-alta. Além disso, destaca a existência de grande estabilidade política, regulatória e institucional, que pode atuar como ativo de refúgio, com uma moeda estável e inflação controlada, resguardada pelo Banco Central Europeu, segundo destaca o Global Latam. Em 2024, o Investimento Estrangeiro Direto (IED) recebido pela Espanha proveniente da América Latina alcançou 2,17 bilhões de euros, 5,3% a menos que em 2023, em linha com a média dos últimos anos, em um contexto marcado por tensões geopolíticas globais, disrupções nas cadeias de suprimento e um ambiente político internacional volátil.
Durante esta jornada de apresentação, a conselheira delegada do ICEX, Elisa Carbonell, destacou que o Global Latam é hoje uma ferramenta essencial para compreender a evolução do investimento latino-americano e antecipar futuras tendências. Nesta nova edição, o relatório confirma que “a Espanha já se consolida como a ponte para a União Europeia para o capital e as empresas latino-americanas, que estão cada vez mais internacionalizadas, apesar do complexo panorama internacional”, sublinhou Carbonell.
Por sua vez, o secretário-geral ibero-americano, Andrés Allamand, apontou que o crescimento do investimento emitido pela América Latina e Caribe em nível global aumentou quase 50% em 2024, um dado que confirma a solidez do processo de internacionalização empresarial da região. Destacou também o fato de que a América Latina se posiciona como o quarto maior investidor na Espanha e que a Espanha é o segundo destino extrarregional do capital latino-americano.
Países e setores
Em específico, a América Latina, quarto maior investidor na Espanha, está precedida pelos Estados Unidos, Reino Unido e França, segundo o VII Relatório Global Latam, que avalia que “o capital latino-americano olha cada vez mais para a Espanha”. Um total de 20 países latino-americanos contam com investimentos na Espanha, o que conforma uma comunidade empresarial de mais de 600 companhias e 44.000 empregos diretos. E, no total, o investimento acumulado proveniente da América Latina na Espanha soma 47,29 bilhões de euros. Se forem incluídos os investimentos em Entidades de Participação de Valores Estrangeiros ou holdings, o valor total alcança 66,84 bilhões de euros, o que representa 9,4% do total do investimento no país.
Quanto aos mercados emissores, o México lidera com grande diferença o investimento latino-americano na Espanha, alcançando 33,90 bilhões de euros, o que representa 50,2% do total. É o primeiro país de renda média por volume de investimento na Espanha, muito à frente de qualquer outro país emergente. Em segundo lugar está a Argentina, com 10,56 bilhões de euros, 15,8% do total; seguida pelo Brasil, com 6,14 bilhões, o que representa 9,2%; a Colômbia, com 6,02 bilhões, é o país cujo investimento mais cresce na Espanha e representa 9% do total; e, por fim, o Uruguai, com 3,60 bilhões de euros, o que equivale a 5,4%.
Ao falar de setores, destaca-se que, entre 2020 e 2024, segundo os dados do FDI Markets analisados pelo Global Latam 2025, foram anunciados na Espanha 360 projetos greenfield de novo investimento provenientes da América Latina, sendo precedida apenas pelos Estados Unidos (com 1.017 projetos captados) e a grande distância de outros países europeus como França, com 103; Alemanha, com 89; Portugal, com 83 ou Itália, com 34, enquanto a Espanha recebe mais projetos da América Latina do que o restante da União Europeia em seu conjunto.
Da mesma forma, nos vinte e um anos de toda a série histórica, a distribuição setorial de projetos greenfield mostra claramente que as empresas latino-americanas presentes na Espanha contam com um perfil muito diversificado e operam fundamentalmente em atividades de alto valor agregado. De fato, o principal setor de atividade já é o de Software e TIC, com 82 projetos de investimento, e confirma o “destacado desembarque” de firmas de serviços e startups latino-americanas no mercado espanhol.
O segundo setor em ordem de importância é o de Serviços Financeiros, com 45 projetos, enquanto o setor de Alimentação e Bebidas segue sendo significativo com 34 projetos, incorporando tanto atividades produtoras quanto de pesquisa e comerciais de grupos proeminentes. Com 25 projetos, o setor Têxtil também mostra uma presença considerável.
No total, a presença empresarial latino-americana na Espanha está extraordinariamente diversificada, estendendo-se por 25 setores diferentes da economia, o que sublinha o impacto substancial desses investimentos na competitividade e inovação do tecido empresarial espanhol. Esses dados comprovam, ainda, que as empresas latino-americanas apostam na Espanha como principal destino na União Europeia e que, além disso, os cidadãos latino-americanos consideram a Espanha seu lugar favorito para residir na Europa.
Empresas altamente capacitadas
No total, os fluxos de Investimento Estrangeiro Direto (IED) emitido pela América Latina e o Caribe, de maneira global, em 2024, contabilizaram um total estimado de 53,03 bilhões de dólares, o que representa um aumento de 49% em relação ao ano anterior. Por essa razão, o relatório valoriza a força do investimento latino-americano no exterior e sublinha que 2024 marca o terceiro maior registro anual da série histórica, ficando atrás apenas de 2022 (78,24 bilhões) e de 2010 (63,15 bilhões). Além disso, posiciona-se muito acima da média do período 2010–2024 e supera com clareza a média quinquenal pré-pandemia.
Quatro economias concentram a maior parte do investimento estrangeiro direto emitido a partir da América Latina: Brasil, México, Chile e Colômbia. Em conjunto, representaram mais de 85% do total regional em 2024. De fato, os elevados volumes sustentados de IED emitido mostram que a região conta com um tecido empresarial altamente capacitado para competir globalmente, tanto por parte de grandes corporações quanto de um número emergente de companhias de serviços, a maioria tecnológicas.
Nesse contexto, o investimento latino-americano em novos projetos (greenfield) no exterior manteve, em 2024, uma dinâmica significativa, ainda que inferior ao recorde alcançado em 2023. Em termos de número de projetos, a atividade investidora manteve-se estável, sendo realizados um total de 355 projetos por parte de 251 empresas latino-americanas, números praticamente iguais aos do ano anterior (354 projetos e 246 empresas).
Quanto ao emprego gerado por esses investimentos, foi ligeiramente superior ao do ano anterior, situando-se em 48.546 empregos frente aos 44.556 de 2023. O investimento médio por projeto também diminuiu ligeiramente para 50 milhões de dólares, ante os 68 milhões em média de 2023, embora semelhante aos 53 milhões do período histórico analisado (2003-2024).
IGLM Multilatinas, um indicador inovador
Este ano, o relatório inclui o novo Índice GLOBAL LATAM de Multilatinas (IGLM), que apresenta as companhias da América Latina mais internacionalizadas, a partir de quatro variáveis: vendas e emprego gerados no exterior, cobertura geográfica ponderada e solvência financeira. O IGLM constitui uma ferramenta única com base em uma metodologia inovadora que permite o acompanhamento das companhias latino-americanas mais globais.
O IGML inclui 348 empresas da América Latina com vendas superiores a 2,50 bilhões de dólares. É liderado por Tenaris (Argentina, metais); Orbia (México, petróleo/química); Nemak (México, transporte/manufatura); Bimbo (México, alimentação); Cemex (México, cimento); MercadoLivre (Argentina, serviços tecnológicos); SQM (Chile, petróleo/química); Gruma (México, alimentação); Vale (Brasil, mineração) e Minerva Foods (Brasil, alimentação).
Por países, o Brasil lidera em número absoluto (19 empresas), embora o México apresente a média IGLM mais alta, graças a modelos de nearshoring financeiro e operacional e, quanto aos setores, os químicos, agroindústria e serviços digitais superam em desempenho outros setores históricos como o de metais ou energia fóssil.
Expansão do investimento
Após analisar as tendências atuais, o Global Latam 2025 prevê que, no futuro, o investimento latino-americano na Espanha continuará em expansão, já que “a consolidação de laços econômicos entre ambas as regiões está gerando um ecossistema empresarial cada vez mais integrado e dinâmico”. Assim, destaca que novos setores como inovação tecnológica, energias renováveis, digitalização e terceirização de processos de negócios estão ganhando protagonismo, abrindo oportunidades para uma nova geração de empresas. E, nesse contexto, surgem “empreendimentos liderados por jovens latino-americanos formados na Espanha – onde se encontram algumas das escolas de negócios melhor posicionadas do mundo –, o que prevê maior dinamismo e inovação dentro do tecido empresarial”.
Por fim, o relatório sustenta que, com um planejamento adequado, uma abordagem adaptativa e uma estratégia de alianças inteligente, “a Espanha continuará desempenhando um papel fundamental como ponte para a internacionalização das empresas latino-americanas rumo à Europa e ao mundo”.