A criação estratégica de linhas de crédito, o sofisticado uso de ativos ilíquidos como alavancagem ou a busca por crédito privado são algumas das medidas concretas que demonstram a capacidade de paciência, princípios e perspectiva que distingue os family offices no cenário financeiro atual.
Estas são algumas das conclusões apresentadas pelo primeiro relatório global sobre financiamento de family offices unifamiliares, que analisa suas opiniões e práticas, e que estuda desde o uso de alavancagem em estratégias de investimento até a utilização de ativos de luxo como garantia. O relatório é baseado nas respostas de 209 family offices de todo o mundo, consultados entre 9 de maio e 14 de julho de 2025.
Para entender como os family offices estão se financiando, Claudio de Sanctis, membro do Conselho de Administração e Head of Private Bank do Deutsche Bank, contextualiza que, em uma era definida pela rápida transformação e constante incerteza, os family offices se erguem como os “discretos arquitetos” do futuro. “Como family offices, confia-se a eles muito mais do que a gestão de ativos: são guardiões de um legado, de um propósito e de uma visão geracional. O mundo enfrenta transformações sísmicas: desde trocas geracionais e revoluções digitais até a urgência climática e a evolução das expectativas sociais. Nesse contexto, os family offices não são mais administradores passivos; são atores ativos na inovação e no impacto”, destaca.
A instituição ressalta que este relatório chega em um momento crucial e elogia a capacidade dos family offices de investir com visão multigeracional, agir como investidores contracorrente quando outros hesitam e construir “reservas de guerra” para aproveitar oportunidades e fortalecer a resiliência — um testemunho de seu papel único. “Nossa pesquisa destaca não apenas a diversidade de abordagens entre regiões e culturas, mas também a ambição compartilhada de equilibrar risco e rentabilidade, liquidez e legado”, acrescenta.
Principais conclusões
O relatório identifica como principal tendência que os family offices criam linhas de crédito para aproveitar oportunidades e gerenciar riscos em meio à incerteza. Segundo explica, a incerteza econômica persiste em muitas regiões do mundo, mas os family offices parecem estar se preparando melhor do que em ciclos anteriores. “Em muitos casos, isso inclui estabelecer linhas de crédito com bastante antecedência ao seu uso previsto e garantidas com tipos de colateral menos líquidos. Essa abordagem mais institucional lhes permite evitar uma superalocação em caixa, reequilibrar proativamente a alavancagem dentro de seus portfólios e construir uma ‘reserva estratégica’ para investimentos oportunistas”, detalha o relatório.
Nesse sentido, acrescenta que o uso tradicional da alavancagem, com o objetivo de aumentar os retornos, segue sendo uma prática importante para a maioria dos family offices no mundo, embora em alguns lugares exista maior reticência em se endividar por razões culturais ou macroeconômicas.
Em segundo lugar, o relatório conclui que os ativos ilíquidos são parte essencial dos portfólios dos family offices e são utilizados cada vez mais como alavancagem. “À medida que os family offices buscaram mais oportunidades nos mercados privados nos últimos anos, sua base de ativos frequentemente se tornou mais ilíquida, e cada vez mais exploram como liberar liquidez. Sua capacidade de tomar decisões de muito longo prazo, em comparação com outros investidores, lhes permite agir de forma contracorrente: aumentar sua exposição quando outros são cautelosos e ver os ativos ilíquidos como oportunidades durante dislocações de mercado”, defende o documento.
Outra conclusão apresentada é que os family offices mais sofisticados utilizam a alavancagem para executar operações maiores e mais completas. Nesse sentido, explicam que o financiamento estruturado é um fator essencial que possibilita determinadas transações, mesmo para os family offices maiores e com mais liquidez.
Segundo a pesquisa, eles valorizam a certeza na execução proporcionada ao trabalhar com um único provedor em vez de um sindicato, bem como a colaboração na due diligence necessária para obter financiamento. Isso é especialmente relevante ao entrar em novos mercados ou setores.
“À medida que os family offices cresceram em tamanho e sofisticação, tornaram-se mais competitivos na busca pelas melhores oportunidades dentro de um conjunto limitado de opções. Consequentemente, pode ser crítico contar com um parceiro financeiro capaz de agir com rapidez e flexibilidade”, afirmam as conclusões.
Em dados, cerca de 20% dos family offices afirmaram ter aumentado sua alavancagem durante o último ano e, entre os que aumentaram a alavancagem nos últimos 12 meses, 74% declararam ter feito isso para investir em imóveis.
Por fim, o relatório conclui que a maioria dos family offices participa de crédito privado e espera altos retornos. “Também perguntamos sobre sua disposição em conceder empréstimos, tanto de forma direta quanto em colaboração com fundos de crédito privado. A maioria empresta de maneira privada e espera retornos de 10% ou mais. Cada vez mais, estão investindo em fundos de crédito privado — não apenas para se beneficiar de rigorosos processos de governança e diligência prévia, mas também de forma estratégica — para construir relacionamentos e acessar oportunidades de co-investimento”, afirma o relatório.



