A cvm (Comissão de Valores Mobiliários) publicou, nesta segunda-feira (15), o relatório da pesquisa “Percepção de Integridade no Mercado de Capitais Brasileiro – 2025”, que avalia o comportamento ético de profissionais do setor e a eficácia do sistema regulatório e de proteção ao investidor. Leia aqui.
O levantamento, coordenado pela Assessoria de Análise Econômica, Gestão de Riscos e Integridade (ASA) da autarquia, recebeu 1.526 respostas entre 28 de abril e 19 de maio. Além disso, 652 participantes enviaram comentários adicionais.
“Houve expressivo engajamento do público em contribuir com a pesquisa. (…) Usaremos esse trabalho para fomentar discussões e ações que contribuam para a melhora na percepção de integridade dos mercados e participantes regulados”, afirmou Bruno Luna, chefe da ASA.
Metodologia e resultados
A pesquisa considerou duas dimensões, com peso igual na composição do indicador:
comportamento ético dos profissionais que atuam no mercado de capitais;
eficácia do sistema regulatório e de proteção ao investidor.
Em escala de 1 a 5, o índice geral ficou em 2,57. Entre os que declararam atuar profissionalmente em atividades reguladas pela CVM (25% da amostra), a média foi de 2,97, enquanto para os demais (75%) o resultado foi de 2,44.
O público geral destacou como ponto de atenção a atuação de assessores de investimento. Entre os que não atuam em atividades reguladas pela autarquia, também foi citada a conduta de gestores de fundos imobiliários.
“Vale destacar que as informações obtidas na pesquisa permitem não apenas compreender a percepção média do público externo, como também contar com mais subsídios para direcionar ações da CVM que contribuam para ampliar a integridade dos mercados regulados”, disse Rafael Oliveira, inspetor da ASA.
Assessores de investimento: críticas ao modelo de remuneração
Os assessores de investimento foram o grupo com a pior avaliação em termos de comportamento ético, com nota próxima a 2,0 (escala de 1 a 5). A crítica se repetiu tanto entre profissionais que atuam em atividades reguladas pela CVM quanto entre o público geral.
Nos comentários abertos da pesquisa, surgiram 69 menções específicas a assessores. As preocupações concentram-se em três pontos:
indicação de produtos considerados inadequados para o perfil do investidor;
desalinhamento de incentivos causado pela remuneração baseada em comissão;
pedido de maior clareza e padronização nas regras de transparência da remuneração, em linha com a Resolução CVM 179, que entrará em vigor em 2026.
Essas críticas sugerem que há uma percepção de conflito de interesses estrutural na forma como o assessor é remunerado, o que levanta dúvidas sobre a prioridade entre atender o cliente ou maximizar ganhos próprios.
Gestores de fundos imobiliários: conflitos de interesse e minoritários desamparados
Já entre os gestores e administradores de fundos de investimento, a avaliação foi negativa principalmente no caso dos fundos imobiliários (FIIs). A percepção crítica partiu sobretudo dos investidores que não atuam profissionalmente em atividades reguladas.
Nos 156 comentários recebidos sobre FIIs, os participantes destacaram:
casos específicos citados em detalhes;
conflitos de interesse nas decisões de gestores, especialmente em operações envolvendo partes relacionadas;
sentimento de desamparo de investidores minoritários, que se veem sem instrumentos eficazes para contestar decisões ou proteger seus direitos.
Esse descontentamento é reforçado pelo fato de que, ao se isolar apenas as respostas que mencionaram fundos imobiliários, o indicador geral de integridade caiu para 2,15, abaixo da média da pesquisa (2,57)
Sistema regulatório
Na dimensão sobre eficácia regulatória, os aspectos mais relevantes para os respondentes foram supervisão e sanção do mercado e direitos e proteção legal do investidor. O relatório observa que essas atividades exigem atuação “mais ostensiva e célere” da autarquia, especialmente em um cenário de forte crescimento do mercado e de subdimensionamento de sua força de trabalho.
Os resultados dialogam com os objetivos estratégicos definidos pela CVM para o ciclo 2023-2027, que incluem o fortalecimento institucional do órgão. A autarquia lembra que medidas recentes não foram captadas pela pesquisa, como a Resolução CVM 179, sobre transparência na remuneração de assessores de investimento, e a Resolução CVM 229, que trata da portabilidade de valores mobiliários e entrará em vigor em 2026.