Com a divulgação do principal índice de inflação da economia brasileira, o IPCA de maio, abaixo das expectativas dos analistas do mercado, é provável que o atual ciclo de alta da Selic pode estar próximo do fim. O IPCA marcou 0,26% em maio, bem abaixo do que havia marcado em abril (0,42%) e mais abaixo de março (0.58%). Como o mercado já especulava o término do atual ciclo de alta da Selic, que começou em julho de 2024 e atingiu 14,75% ao ano na última reunião de 8 de maio do Comitê de Política Monetária (COPOM), a desaceleração do IPCA reforça essa expectativa dos analistas.
“Ontem (10/06) tivemos uma surpresa baixista do IPCA, que não só veio desacelerando em relação ao mês de abril, mas veio abaixo do consenso, da mediana das expectativas do mercado”, diz Matheus Spiess, analista da Empiricus Research.
Analistas divididos – Os analistas de mercado, porém, ainda estão divididos se ainda há espaço para mais uma alta da Selic na próxima reunião do COPOM no mês de junho. Na última reunião do Comitê, houve a sinalização que ainda haveria margem para pelo menos mais uma alta, que o mercado projetou em 0,25%. A questão é que a alta está condicionada aos novos dados que são divulgados no período.
“Os dados de inflação divulgados recentemente apontam que o patamar de Selic a 14,75% já é suficiente. Entretanto, as últimas declarações do presidente e autoridades do Banco Central foram em direção ao aperto contínuo. Ou seja, para a realização de mais uma alta residual. Então, o que parece é que o Banco Central quer parar de subir os juros, mas existe a possibilidade de uma última alta”, afirma o analista da Empiricus.
A alta adicional seria justificada pelo índice acumulado da inflação que ainda está em patamar elevado. “Do ponto de vista da política monetária, vemos uma diferença clara entre bens transacionáveis caindo enquanto os não transacionáveis continuam acelerando. O câmbio tem ajudado a autoridade monetária e isso está aparecendo nos números. Isso ajuda a limitar a alta da inflação, mas é insuficiente para levá-la à meta, como podemos ver pelos núcleos, que começam a arrefecer na ponta, mas ainda estão entre 5% e 6%”, prevê Felipe Sichel, economista-chefe da Porto Asset.
O economista explica que a surpresa positiva do IPCA pode ser atribuída principalmente aos preços dos itens industriais, com contribuição de alimentação no domicílio e administrados. Por outro lado, os preços de serviços vieram acima do esperado”, diz Sichel. A Porto Asset projeta a inflação de junho em 0,29%.
Juros futuros – Em todo caso, a divulgação do IPCA de maio derrubou as taxas de juros futuros. A taxa do contrato DI de janeiro de 2027 caiu de 4,22% para 4.15%. A mesma taxa referente a janeiro de 2029 saiu de 13,64% para 13,21%. Segundo dados do Valor Pro e B3, 53% dos analistas apontavam para uma alta de 0,25% na Selic na próxima reunião do COPOM, enquanto 45%, indicavam para a manutenção da taxa de juros básica.
Em algum momento do dia anterior, os analistas chegaram a ficar exatamente divididos, 50% para cada lado, mas no fechamento do mercado, acabou pendendo levemente para uma última alta, segundo dados de Valor Pro e B3 Se o ciclo de alta parece estar próximo do fim, resta saber quando começará o novo ciclo de corte da Selic.