O mercado financeiro está amadurecendo no Brasil, e o crescimento do modelo fee-based entre assessores e consultores é positivo para o setor, na avaliação do ex-presidente da CVM (Comissão de Valores Mobiliários), João Pedro Nascimento, que deixou o cargo em julho alegando motivos pessoais.
Indagado sobre o impacto das Resoluções 178 e 179 na ascensão das consultorias, o ex-mandatário afirmou que “num saldo geral, eu acho que esse movimento de florescimento de novas consultorias tende a ser positivo para o mercado”, durante o 3º Congresso Internacional de Profissionais do Mercado Financeiro, Advisor Talks, em São Paulo.
Ele ressalta, porém, que “algumas premissas aplicadas aos consultores são diferentes das premissas aplicadas aos assessores”.
“Não é simplesmente a migração do modelo de remuneração — e é aí onde eu acho que está o acerto da regra — mas a previsibilidade para o investidor, de que ao escolher um determinado produto recomendado pelo assessor — ou, em determinado contexto, pelo consultor — ele não será surpreendido com a remuneração que ele vai pagar”, afirmou.
Segundo Nascimento, um ponto “indiscutivelmente positivo” é que esse movimento fez com que o investidor passasse a “formar o próprio convencimento dele na definição do arranjo contratual que ele vai ter com o prestador de serviço”. Ele vê como marco de seu mandato o foco no fortalecimento da figura do assessor de investimentos.
“A Resolução 178 trouxe uma série de proteções para os assessores de investimento — acabou com a exclusividade, permitiu a entrada de investidores capitalistas, flexibilizou a formatação societária dos veículos que desenvolviam as atividades de assessoria”, afirmou.
“De outra maneira, a Resolução 179 protegeu o investidor, demandando maior transparência na remuneração relacionada aos assessores”, disse.
“Qual é a ideia por detrás da necessidade de transparência da 179? A pergunta é: por que o assessor recomendou o produto A e não o produto B? Ele recomendou pela aderência ao perfil ou porque aquela casa remunera melhor o intermediário?”, completou.
Aumento de assessorias é reflexo da carência de serviço
O painel também contou com a participação de Felipe Russo, presidente da ABCVM, que reforçou que a transparência trazida pelas novas normas protege os bons profissionais, mas destacou que a explosão de consultorias e escritórios não é consequência direta das resoluções.
Segundo ele, o fenômeno tem outra origem. “Sou sempre provocado sobre se a transparência da 178/179 trouxe mais volume ou migrou negócios para a consultoria. E eu acho que não.”
Russo concorda com a avaliação de Nascimento sobre a importância das normas, dizendo que “as normas são ferramentas bem-vindas para investidores e para os assessores. Elas protegem os bons assessores com a transparência.“A pressão no mercado de consultoria é realmente vertiginosa. Atingimos o número de 500 consultorias. No final do ano passado eram 270. Realmente um crescimento amplo.”
“O que vejo que talvez esteja mais atrelado a esse crescimento rápido é uma falta, de fato, de serviço — é uma carência de serviço no mercado.”
