A EQI Investimentos vive um dos momentos mais ambiciosos da sua trajetória. Em entrevista à Funds Society durante o Advisor Talks — 3º Congresso Internacional de Profissionais do Mercado Financeiro, realizado na última quarta-feira (26), o CEO, Juliano Custódio, afirma que a empresa já se prepara para disputar espaço com XP e BTG, mirando uma plataforma completa, verticalizada e com produtos proprietários. “Não temos o tamanho de XP e BTG, mas temos o ‘como fazer’. Podemos entregar o playbook para os escritórios”, disse ele, ao defender que a trajetória da EQI — que nasceu como escritório e virou corretora — é justamente o diferencial que pretende usar para escalar no B2B.
O movimento de consolidação começa pelo crédito. Segundo Custódio, essa é a principal prioridade estratégica da casa. “Apesar de muita gente achar que produto é commodity, nós não acreditamos. Há muito produto mal feito, e o varejo acaba recebendo apenas a sobra. Queremos trazer produtos de alta qualidade para a pessoa física”, diz. A ambição de se tornar banco passa necessariamente por essa vertical: “Tudo começa por fortalecer as estruturas de crédito. Se queremos montar o banco da EQI, precisamos aprender a alocar dinheiro como um banco.”
Banco de investimentos em até três anos…
A empresa pretende iniciar as conversas com o Banco Central no fim do ano e projeta lançar o banco de investimentos em um horizonte de dois a três anos. Custódio explica que a mudança exige capital, governança e robustez operacional — características que a EQI, segundo ele, ganhou nos últimos anos.
Ele lembra que levou uma década para transformar R$ 15 milhões de custódia em um negócio escalável e que só após esse período conseguiu construir uma estratégia de longo prazo consistente. Hoje, a empresa opera em outro patamar: são R$ 50 bilhões sob custódia, cerca de 80 mil clientes, receita próxima a R$ 700 milhões considerando as verticais próprias, 14 escritórios próprios e 44 parceiros B2B, além de um ecossistema com 900 assessores.
No segmento de Wealth, que soma R$ 20 bilhões, a EQI reorganizou a estrutura para dar tratamento diferenciado aos clientes de maior patrimônio. “Esses clientes estavam espalhados na assessoria. Resolvemos aglutinar em uma estrutura mais profissional, com assessores sêniores e especialistas de mercado”, explica. O corte de entrada foi definido em R$ 10 milhões, e a empresa já começou a internalizar células de planejamento sucessório e tributário, que antes eram terceirizadas.
A internacionalização da prateleira também é central para a estratégia da casa. A EQI está na quarta estruturação imobiliária nos Estados Unidos, com operações que incluem o financiamento do Hotel Fasano em Miami via JHSF, uma coestruturação com a Leste Group — asset sediada em Miami — e o financiamento à Resia, empresa do grupo MRV na Flórida. “Estamos montando diversas estruturas nos Estados Unidos, do jeito que o brasileiro gosta, mas com investimento lá fora”, afirma o CEO.
Outra frente de expansão é a criação de uma seguradora própria, possivelmente antes mesmo do banco. “Estamos caminhando para montar uma seguradora que, inicialmente, atenderá a nossa operação de previdência”, disse. A EQI já possui fundos previdenciários em sua asset, mas usa seguradoras terceiras; o plano agora é verticalizar essa parte da cadeia. Os seguros de risco, mais complexos e intensivos em capital, ficam para um segundo momento: “Para atuar com seguros de risco, é necessária uma estrutura de capital mais robusta.”
Ao comentar a disputa com XP e BTG, Custódio admite que o tamanho dos gigantes cria uma diferença de escala, mas garante que a EQI pretende se posicionar como a terceira grande alternativa do mercado — com forte capacidade de distribuição, produtos próprios, controle rigoroso de carteiras e obsessão por processos previsíveis. “O cliente que não é enfiado com porcaria na carteira fica leal, advoga pela empresa e traz indicadores. É assim que a roda gira”, afirmou, em referência ao flywheel que estrutura a estratégia de crescimento da casa.
