A promessa de que a união faz a força vem trazendo resultados animadores aos assessores de investimento do Chile, uma indústria que tem vivido um forte desenvolvimento e consolidação nos últimos anos. O setor, agrupado na Associação Chilena de Assessores de Investimento (ACHAI), vivenciou recentemente um novo marco: seu primeiro evento público, no qual apresentou aos participantes – um auditório lotado na sede do Golf de Icare – uma radiografia da indústria.
O seminário, focado em assessores e multi-family offices e intitulado “Assessoria de investimento no Chile: regulação e tendências globais”, contou com uma variedade de perspectivas de gestoras internacionais e atores locais. Com isso, consolidam sua presença como uma entidade dedicada a apoiar os assessores financeiros, auxiliando-os em sua relação com a regulação – um dos motivos que inspirou a criação da ACHAI e impulsionando iniciativas como o Comitê de Ética e Boas Práticas. “Seguiremos insistindo em avançar. Estamos apenas começando”, destacou Arie Gelfenstein, diretor executivo da entidade, em suas palavras de abertura. “Quando todo o setor se une, avançamos todos”, reforçou.
Nesse contexto, o seminário inaugural da ACHAI trouxe aos participantes uma visão geral da indústria, tanto da evolução que ela tem experimentado quanto das tendências internacionais de investidores e carteiras de investimento.
Uma radiografia do setor
Uma das peças centrais do seminário da ACHAI foi dedicada a sondar o alcance da indústria no Chile, um espaço que tem tomado forma à medida que os profissionais vêm se registrando na Comissão para o Mercado Financeiro (CMF). Mais ainda, segundo revelaram representantes da entidade no evento, até outubro deste ano já estavam registrados 192 assessores no país e outros 82 estavam em processo.
“A indústria triplicou seu alcance de clientes em dois anos”, destacou o diretor de Supervisão de Administração de Fundos e Assessores de Investimento do órgão regulador, Nicolás Álvarez, e segue expandindo-se, tanto em AUM quanto em número de clientes.
Uma pesquisa realizada pela CMF no setor revelou que os assessores de investimento têm um alto nível de acreditação, tendem a recomendar investimentos em fundos e que percebem 55% de sua receita – em média – de comissões indiretas.
Por sua vez, Beltrán de Ramón, comissário da entidade reguladora, delineou o mandato do órgão em relação à assessoria financeira, explicou o procedimento sancionatório, o alcance da Norma de Caráter Geral (NCG) 502 – que se aplica aos assessores – e destacou o papel desses profissionais no mercado financeiro.
Para oferecer a visão e a experiência dos atores do mercado local, a ACHAI reuniu um painel de profissionais de diferentes casas de investimento. Esse espaço revelou um segmento de clientes de diversos níveis de patrimônio com demandas crescentes e maior sofisticação.
A experiência da indústria local
“O que se observa é uma necessidade nas pessoas, que requerem mais assessoria”, devido ao fato de que “os investimentos ficaram mais complexos”, nas palavras de Cristián Cardone, gerente de Gestão Patrimonial da LarrainVial. As carteiras dos clientes, explicou, estão muito diferentes do que eram uma ou duas décadas atrás, com uma presença maior de produtos como ETFs e investimentos alternativos. Isso intensifica a demanda por um olhar profissional, junto com maior transparência e mais educação.
E essa demanda também ecoou nas instituições financeiras maiores. Segundo comentou Pablo Urzúa, Country Manager para o Chile da SURA Investments, muitas companhias que antes não viam atratividade nos canais de wealth management agora estão olhando para esse espaço, o que tem ajudado a dinamizar o setor. Ainda assim, o profissional apontou que o crescimento desse canal – maior do que outros – traz desafios para os GPs.
Nessa linha, Pilar Concha, gerente geral da Associação Chilena de Administradoras de Fundos de Investimento (Acafi), enfatizou que – atualmente – “69% da indústria de fundos vem de corretoras de valores”.
As gestoras, acrescentou Carlos Saieh, sócio e CEO da Toesca Asset Management, têm uma percepção crescente dessas firmas como “relações estratégicas”, mais do que meros canais de distribuição. “O mínimo que temos que fazer como fornecedor de produtos financeiros para os assessores é entregar informação”, acrescentou.
E a diferença em relação a outros segmentos de clientes, por sua vez, tem se tornado mais evidente. O CEO da BTG Pactual Asset Management, Hernán Martin, destacou que “depois de 2019, é difícil colocar no mesmo produto um institucional e um cliente de wealth management”. Ambos os segmentos, explicou, têm comportamentos, horizontes de investimento, tempos, etc., distintos.
Tendências internacionais
Em nível global, a indústria de gestão patrimonial está vivendo um momento de auge. O AUM global fechou 2024 em 135 trilhões de dólares na indústria de wealth management, segundo destacou Cristóbal Monje, Head of Business Development para a América Latina da Fidelity International. E os investidores individuais estão impulsionando o crescimento, respondendo por 80% do fluxo líquido.
Nessa linha, o profissional enfatizou que 6 trilhões de dólares do AUM gerido pela indústria nos EUA está nas mãos de assessores independentes, com cerca de 300 mil profissionais, operando principalmente por meio de um modelo de comissão sobre ativos sob gestão.
Algumas mudanças que Monje observou na indústria estão relacionadas à assessoria integral – assumindo uma figura semelhante à de um “coach financeiro” –, à modalidade híbrida – que combina tecnologia e talento humano –, à arquitetura aberta e a uma maior diversidade, tanto geracional quanto de gênero. No âmbito dos investimentos, por sua vez, algumas tendências observadas incluem uma relativa diminuição das posições nos EUA, o auge dos ETFs ativos e dos alternativos e o uso de tecnologias como a inteligência artificial para melhorar a eficiência.



