A B3 publicou nesta quarta-feira (12) o Report Anual de ETFs 2025 (íntegra), durante o ETF Day Brasília, revelando um setor que rompeu a fase de democratização e ingressou no que classifica como etapa de “sofisticação acessível”. O mercado nacional superou R$ 75 bilhões em patrimônio consolidado, reúne mais de 850 mil investidores em custódia — sendo 81% pessoas físicas — e alcança 500 produtos listados, entre ETFs locais e globais.
Segundo o documento, a indústria passou a entregar ferramentas capazes de estruturar portfólios completos, com produtos que vão de renda fixa soberana a cripto, de micro caps a robótica, e de estratégias quantitativas a soluções híbridas. A expansão abre espaço para alocações mais rigorosas e diversificação antes restrita a grandes investidores.
Novo ciclo do mercado: da réplica ao portfólio completo
O report destaca que, desde o primeiro ETF brasileiro, lançado em 2004, a indústria evoluiu de replicadores simples para estruturas complexas, globais e orientadas a fatores. O avanço, segundo o estudo, foi impulsionado por digitalização, educação financeira, entrada de gestoras internacionais e fortalecimento regulatório.
Report Anual de ETFs 2025
Em 2025, quatro marcos definiram essa virada:
primeiro ETF híbrido do país (GOAT11), combinando renda fixa local e ações internacionais;
primeiro modelo de cogestão em ETFs;
ETF Connect Brasil–China, que liga a B3 às bolsas de Xangai e Shenzhen;
primeiro ETF brasileiro baseado em contratos futuros de Bitcoin (NBIT11).
Report Anual de ETFs 2025
A B3 afirma que o país deixou de ser espectador para se tornar “protagonista” na internacionalização e inovação do setor.
“A B3 acompanha de perto as demandas dos investidores e as tendências globais”, disse Bianca Maria, gerente de Produtos de Cash Equities da B3. “O que observamos é um apetite crescente por novas teses e estratégias de ETFs.”
ETF Connect transforma o Brasil em polo entre Ocidente e Ásia
Lançado em maio, o programa ETF Connect Brasil–China foi destacado como um divisor de águas. O país se tornou o primeiro fora da Ásia a aderir ao modelo, permitindo listagens recíprocas. Os primeiros ETFs listados na B3 foram:
PKIN11, que acompanha o índice CSI 300;
TECX11, ligado ao ChiNext;
SILK11, que segue o MSCI China A 50 Connect.
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Para investidores chineses, ETFs baseados no Ibovespa serão disponibilizados. A iniciativa conecta o mercado brasileiro a um ecossistema que movimenta mais de US$ 400 bilhões em ETFs e reforça o país como hub regional.
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Investidor amadurece e passa a buscar estratégia, não só acesso
O relatório aponta mudança de comportamento: a dúvida deixou de ser “vale a pena investir em ETF?” e passou a ser “qual ETF faz sentido para minha estratégia?”. O cenário, segundo o influenciador Bruno Paolinelli, reflete disciplina e ganho de eficiência. “Investir em ETF é investir em disciplina”, afirma.
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Como as asset managers enxergam o novo ciclo
O report reúne análises de dez gestoras que participam ativamente da indústria.
Visões das gestoras
BlackRock: Smart Beta como nova etapa da gestão
A gestora destaca que o Smart Beta ocupa o espaço entre gestão passiva e ativa, reorganizando índices por fatores quantitativos como valor, qualidade, tamanho e momentum. A estratégia, antes restrita a investidores institucionais, tornou-se acessível por meio dos ETFs. Para o mercado brasileiro, a abordagem responde à concentração do Ibovespa e amplia a exposição à chamada “economia real”.
Bram (Bradesco Asset Management): internacionalização via ETFs
A gestora reforça que ETFs permitem ao investidor brasileiro acessar mercados globais sem remessa internacional. Cita o avanço da indústria global, que fechou 2024 com US$ 14,85 trilhões em ativos e recorde de US$ 1,88 trilhão em captações líquidas. A Bram vê no ETF Connect um mecanismo estratégico para conectar investidores brasileiros e chineses e posicionar o país como polo financeiro.
BTG Asset: crédito privado ganha força com DEBB11 e MARG11
O DEBB11, primeiro ETF de crédito privado da B3, superou o desafio inicial de liquidez com metodologia rígida e se consolidou como alternativa de exposição ao crédito corporativo. Em 2025, o MARG11 se tornou o primeiro ETF de debêntures aceito como garantia na B3, direcionado ao investidor institucional. A gestora se afirma como maior administradora de ETFs de crédito privado no país.
Buena Vista: ETFs de cripto entram na fase institucional
A casa avalia que o maior impacto dos ETFs de cripto foi permitir entrada de investidores institucionais, não da pessoa física — que já tinha acesso amplo. Entre os destaques, o COIN11, primeiro ETF de Bitcoin com proventos mensais, e o GBTC11, que combina Bitcoin e ouro ajustados por volatilidade. A gestora defende que cripto deve ser tratado como classe de ativos estruturada e regulada.
Global X: teses globais chegam ao investidor brasileiro
A gestora destaca expansão de produtos temáticos como:
BKCH39, focado em blockchain;
BAIQ39, com exposição à inteligência artificial;
DTCR39, ligado a infraestrutura digital e data centers;
BLBT39, voltado ao ciclo do lítio;
BURA39, relacionado à energia nuclear;
BOTZ39, de robótica e automação.
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Segundo a gestora, essas tendências ajudam o investidor a acessar setores que moldarão o futuro econômico global.
Investo: renda fixa ganha escala dentro dos ETFs
A Investo ressalta que o segmento já representa 24% da indústria e segue crescendo.
O LFTB11, que replica majoritariamente títulos indexados à Selic, superou R$ 1 bilhão em patrimônio em menos de um ano. A gestora também foi pioneira nos ETFs de renda fixa internacional, com os USDB11 e BNDX11.
Itaú Asset: GOAT11 inaugura segmento híbrido no país
A gestora lançou em 2025 o GOAT11, primeiro ETF híbrido nacional, combinando renda fixa local e ações internacionais.
A proposta é reduzir ruídos emocionais do investidor e oferecer diversificação com disciplina dentro de um único produto. A casa ressalta que no exterior a categoria já é consolidada.
Nu Asset: NBIT11 traz exposição ao Bitcoin via derivativos
O NBIT11 é o primeiro ETF brasileiro baseado no contrato futuro de Bitcoin negociado na B3. Ele elimina riscos de custódia física ao usar derivativos padronizados com colateral em títulos públicos. A gestora defende que o produto oferece segurança operacional e aderência total ao preço do ativo digital.
Trígono Capital: micro caps acessíveis via TRIG11
A Trígono utiliza o índice IMCAP, criado pela Teva Índices, que seleciona micro caps com liquidez mínima mensal e filtros de governança e qualidade. O TRIG11 replica o indicador e busca expor o investidor ao segmento mais dinâmico da Bolsa, mas tradicionalmente de difícil acesso.
XP Asset: ouro consolida seu papel com o GOLD11
O GOLD11, ETF atrelado ao ouro e já com quase R$ 3 bilhões em patrimônio, tornou-se o principal instrumento de exposição ao metal após a descontinuação dos contratos futuros. O fundo dobrou de valor desde 2020 e mantém alta liquidez, sendo visto como alternativa de proteção patrimonial.
O que esperar dos próximos anos
O report aponta três movimentos para o futuro:
integração total dos ETFs internacionais na B3;
expansão dos ETFs de crédito e híbridos;
fortalecimento dos produtos baseados em fatores e teses globais.
Report Anual de ETFs 2025
Para a B3, o país entra em uma fase em que ETF não é mais ferramenta de acesso, mas de construção de estratégia. A indústria assume papel central na organização dos portfólios e na internacionalização do investidor brasileiro.
