Desde 2020, as bolsas europeias têm sofrido interrupções significativas durante suas negociações, afetando o funcionamento ordenado dos mercados de renda variável. Para evitar essas situações, as principais associações europeias do setor propõem implementar “de maneira plena e coerente” protocolos de interrupção.
Em concreto, essa reflexão e proposta vêm da Associação para os Mercados Financeiros na Europa (Afame), da Associação Europeia de Fundos e Gestão de Ativos (Efama) e da Associação Europeia de Operadores Principais (FIA EPTA), que representam uma parte significativa dos participantes dos mercados europeus. As três organizações fazem um apelo às bolsas de valores para que adotem as medidas necessárias que garantam sua plena capacidade de seguir os protocolos de interrupção do mercado.
Para apoiar mercados mais resilientes, as associações delineiam quatro princípios-chave:
Clareza sobre o estado das ordens: Consideram que as bolsas devem fornecer informações precisas e coerentes sobre o estado do mercado, os preços dos instrumentos, as ordens e as operações, com um estado claro de “interrupção/fechado” para evitar confusões.
Atualizações regulares: Sustentam que as bolsas devem se comunicar pelo menos a cada 15 minutos durante uma interrupção, de maneira simultânea a todos os participantes, e em formatos legíveis por máquina que possam ser integrados aos sistemas de negociação.
Procedimentos de reabertura: Propõem que os horários de reabertura sejam comunicados com pelo menos 15 minutos de antecedência, em incrementos de tempo “arredondados”, após consulta com os participantes e considerando uma possível limpeza do livro de ordens, se necessário.
Leilões de fechamento: Consideram que as bolsas devem dar um aviso de 30 minutos sobre se será realizado um leilão de fechamento, com planos de contingência claros para fornecer preços de fechamento caso os sistemas permaneçam inativos.
Essas associações destacam que a confiança nos mercados de capitais europeus depende da transparência e da confiabilidade. “Cumprir os protocolos estabelecidos para as interrupções é fundamental para salvaguardar a confiança dos investidores, manter a estabilidade do mercado e reforçar a competitividade da Europa”, afirmam.
Passos já dados
Essas três associações reconhecem que as interrupções são inevitáveis, dado que os mercados dependem cada vez mais da eletrificação e da automação, mas ressaltam que seu impacto pode e deve ser minimizado por meio de procedimentos sólidos, transparentes e aplicados de forma coerente.
Essas propostas se somam às medidas já adotadas por operadores e reguladores. De fato, as três associações reconhecem que, nos últimos anos, os reguladores e os participantes do mercado têm trabalhado arduamente para estabelecer normas claras para a gestão das interrupções. Em particular, destacam avanços significativos, como o Relatório Final da ESMA sobre interrupções de mercado (maio de 2023), a Declaração de política da FCA sobre a melhoria dos mercados secundários de renda variável (maio de 2023) e as Normas propostas pela associação Plato Partnership (novembro de 2024). “As bolsas se comprometeram, em termos gerais, a alinhar seus procedimentos com essas iniciativas regulatórias e do setor”, apontam.
No entanto, as associações também alertam que a utilidade desses protocolos só se materializa se forem executados corretamente durante as interrupções. Segundo elas, incidentes recentes mostraram “lacunas no cumprimento”, gerando “confusão, riscos desnecessários e maiores disrupções para investidores e emissores”. “A interrupção mais recente, em julho de 2025, demonstra até que ponto as pausas na negociação podem ser prejudiciais para os investidores, os mercados e a economia em geral”, recordam.



