Enquanto os mercados de criptomoedas ressurgem em 2025, impulsionados por repiques de preços e pelo crescimento de produtos financeiros como os ETFs de bitcoin à vista nos Estados Unidos, a verdadeira transformação acontece em um terreno menos visível: o geopolítico. Segundo a WisdomTree, além dos gráficos e das manchetes, está sendo preparada uma corrida global pelo domínio dos ativos digitais.
«Nigéria, Estados Unidos, Emirados Árabes Unidos, Brasil e Coreia do Sul estão se posicionando como centros estratégicos para o futuro das criptomoedas. Não estão apenas adotando esses ativos: estão operacionalizando-os», afirma Dovile Silenskyte, diretora de Pesquisa de Ativos Digitais da WisdomTree. Segundo a especialista, a Nigéria se tornou o “ponto zero” das criptomoedas como salva-vidas financeiro.
«Em Lagos, a capital econômica da Nigéria, o uso de criptomoedas não é uma moda especulativa, mas sim uma ferramenta financeira vital. A Nigéria lidera os rankings globais de adoção, motivada por uma combinação de juventude digitalmente ativa, inflação persistente e sistemas bancários ineficazes. O uso de stablecoins entre pares (especialmente USDT na Tron) está em expansão. Além disso, apesar da hostilidade do Banco Central no passado, os usuários desenvolveram vias paralelas. O projeto piloto da moeda digital do banco central (CBDC) eNaira fracassou, reafirmando a forte preferência popular por alternativas descentralizadas», comenta Silenskyte.
EUA e Emirados Árabes: regulação e testes
No caso dos Estados Unidos, ela aponta que o país continua sendo o epicentro do financiamento cripto global, com uma força institucional incomparável. «A regulação americana continua sendo um terreno complexo, mas o capital institucional começou a moldar o ecossistema. A aprovação em 2024 dos ETFs de bitcoin à vista provocou uma entrada de mais de 40 bilhões de dólares em ativos sob gestão», lembra.
Nesse sentido, os grandes gestores de ativos estão construindo infraestruturas cripto integradas: desde tesourarias tokenizadas até soluções com stablecoins. «Outro dado a destacar é que o estado de New Hampshire marcou um marco ao permitir investimentos públicos em criptomoedas de alta capitalização», acrescenta a especialista.
Em relação aos Emirados Árabes, ela comenta que o país se consolidou como um laboratório para a regulação de ativos digitais em escala global. Considera que Dubai não espera que o Ocidente aponte o caminho. Com a Autoridade Reguladora de Ativos Virtuais (VARA) à frente, os EAU estabeleceram um regime de licenciamento claro e favorável às empresas, atraindo grandes plataformas como Binance, OKX e Bybit.
Além disso, a tecnologia blockchain está sendo integrada ao financiamento do comércio e ao setor imobiliário por meio de iniciativas nacionais de economia digital.
Brasil e Coreia do Sul: duas referências em suas regiões
«O caso do Brasil demonstra que a combinação de inovação tecnológica e regulação progressista se traduz em adoção real. O país está deixando de ser apenas um destaque na América Latina para se tornar um nó central da economia cripto regional. O PIX, sistema de pagamentos instantâneos do Banco Central, se combina perfeitamente com os fluxos de stablecoins; as corretoras de criptoativos (exchanges) como Mercado Bitcoin estão crescendo sob um regime claro e com incentivos fiscais; o real brasileiro digital (DREX) e os instrumentos de dívida pública tokenizados estão em fase de desenvolvimento», explica.
Por fim, destaca que a cena cripto sul-coreana combina um dos maiores apetites de varejo do mundo com um rigoroso controle regulatório. Representa um ecossistema maduro, líquido e cada vez mais regulamentado, fundamental para o mapa cripto da Ásia. «As plataformas de negociação locais registram volumes comparáveis ao mercado de ações. Além disso, as autoridades impõem regras rigorosas sobre negociações com identidade verificada, tributação e licenciamento, e o país também avança em marcos regulatórios para tokens de segurança e DeFi», conclui.