Fatores geopolíticos como os conflitos militares, as sanções e as mudanças de longo prazo, como as barreiras comerciais, influenciam cada vez mais nas decisões de investimento, segundo as conclusões do relatório «Friendvesting: a nova arquitetura do investimento em um mundo fragmentado», elaborado pela Economist Impact e patrocinado pela Xtrackers da DWS.
O documento revela que a renda variável e a renda fixa, em particular, reagem rapidamente aos acontecimentos políticos, o que obriga os gestores de fundos e investidores a repensarem as antigas suposições sobre risco e rentabilidade. Nesse sentido, os autores do relatório propõem o friendvesting, ou o investimento junto a grupos geopolíticos aliados com interesses econômicos e estratégicos compartilhados, como uma estratégia central para os investidores institucionais em 2025.
O que é a «era do friendvesting»?
«Os investidores institucionais já não tratam os conflitos geopolíticos como ruído de fundo. A guerra na Ucrânia e no Oriente Médio, as tensões no Estreito de Taiwan e as ameaças tarifárias de Washington transformaram a geopolítica em uma variável central na construção de carteiras. A pesquisa da empresa com 300 investidores globais mostra uma mudança: de considerar a geopolítica como algo episódico, a considerá-la como algo estrutural, o que redefine o destino dos fluxos de capital, sua alocação e sua gestão. O padrão emergente é o friendvesting: alinhar o capital com jurisdições onde a geopolítica é menos intrusiva e evitar, ou ao menos proteger-se, de qualquer risco crescente», indica o relatório.
O «friendvesting» começa com a geografia: dois terços dos investidores afirmam que é o principal fator que influencia a geopolítica de suas carteiras. No caso dos ativos reais (portos, oleodutos ou imóveis), a localização é crucial. Mas, na maioria dos casos, os investidores se preocupam menos com onde um ativo é contabilizado do que com sua exposição aos riscos geopolíticos que se movem ao longo das fronteiras geográficas. Em renda variável, a questão não é se uma empresa é listada em Boston ou Pequim, mas sim se depende de fornecedores, clientes ou operações em jurisdições voláteis. A nova geografia do capital se define menos pela proximidade do que pela dependência.
Classes de ativos e a forma do risco
Se a geografia define os limites do investimento friendvesting, a alocação de ativos lhe dá forma. Diferentes ativos carregam risco geopolítico de diferentes maneiras. Alguns o transmitem abertamente; outros o ocultam até que surjam problemas. Os títulos dependem de sua aplicabilidade legal; as ações revelam emaranhamentos operacionais; e os ativos reais são vulneráveis devido à sua imobilidade física. Para os investidores, a tarefa consiste em compreender como cada ativo absorve e transmite a tensão geopolítica. Isso se complica pela falta de confiabilidade das métricas tradicionais de risco quando surgem conflitos internacionais.
Segundo explica o relatório, os riscos geopolíticos se distribuem de forma desigual entre os setores. Algumas indústrias se encontram mais próximas das linhas divisórias, vulneráveis a sanções e barreiras regulatórias. Nosso estudo prioriza a tecnologia, a energia e a defesa. No entanto, os limites específicos de exposição variam conforme o país. Os investidores se perguntam o que significa cada setor: como é percebido, politizado e potencialmente utilizado como arma.
A burocratização do imprevisível
Quantificar o risco geopolítico continua sendo difícil, por isso quase a metade dos investidores citam a incerteza nas previsões como seu principal desafio. As sanções e as tarifas são difíceis de modelar e as guerras estouram sem aviso prévio. As respostas institucionais são diversas: algumas empresas criam comitês de risco interfuncionais, outras terceirizam para consultorias formadas por ex-diplomatas. Os modelos de investimento híbridos, que combinam exposições passivas com cobertura dinâmica, estão ganhando espaço, oferecendo estabilidade e capacidade de resposta.