A “One Big Beautiful Bill” atraiu muita atenção para a situação fiscal dos EUA, contribuindo para a perda da última classificação de crédito AAA do país. Além disso, o recente leilão de títulos do Tesouro norte-americano teve um resultado decepcionante. Esses fatores pesaram sobre os preços dos títulos de longo prazo dos EUA durante o segundo trimestre deste ano.
Nesse contexto, os títulos do Tesouro norte-americano de longo prazo ainda serão mais vendidos? Acredito que isso é pouco provável, já que muitos fatores negativos já estão precificados. Embora as condições fiscais influenciem a evolução das taxas dos títulos, os dados econômicos continuam sendo o fator determinante. Acredito que a pressão inflacionária nos EUA não é tão grave quanto alguns investidores esperam.
Vale destacar que as tarifas provavelmente terão um impacto pontual, e a inflação é impulsionada principalmente pelo crescimento salarial e pelas condições do mercado de trabalho. À medida que a economia desacelera, os salários e os preços dos serviços básicos (excluindo habitação) continuarão esfriando. Além disso, a tendência deflacionária na China continua, o que pressiona para baixo os preços das commodities.
Atualmente, o crescimento econômico dos EUA mostra sinais de fraqueza, e o PIB pode ficar abaixo de sua média de longo prazo. Se a taxa de desemprego subir, o Federal Reserve deverá cortar novamente as taxas de juros ainda este ano. O mercado prevê, em geral, dois cortes de juros este ano — totalizando mais de 50 pontos-base. Acredito que o número final de cortes possa ser maior do que o esperado, o que daria suporte aos preços dos títulos do Tesouro norte-americano de longo prazo.
A situação fiscal dos EUA pode não ser tão grave quanto o mercado imagina
Embora seja compreensível que o mercado tenha dúvidas sobre a “One Big Beautiful Bill” de Trump, os investidores deveriam adotar uma visão mais ampla ao analisar a situação fiscal dos EUA. Mesmo que Trump faça concessões na política tarifária, elas não retornarão ao nível anterior ao “Dia da Libertação” (2–3%), mas sim em torno de 8–9%. Esse nível seria suficiente para gerar entre 250 e 300 bilhões de dólares em receita fiscal, quase equivalente ao gasto anual da Lei. Portanto, o problema fiscal dos EUA pode não ser tão grave quanto se teme.
Além da preocupação com o mercado de títulos do Tesouro, o mercado continua atento à possível erosão do papel do dólar como moeda de reserva internacional. Mantemos cautela quanto ao comportamento do dólar e temos reduzido nossa exposição a ativos denominados na moeda, mas não porque acreditamos que o dólar vá perder sua função como reserva de valor: afinal, que outras alternativas têm os fundos soberanos ou os grandes bancos centrais, além do ouro ou dos títulos AAA governamentais como os da Austrália?
Além disso, a liquidez e o tamanho do mercado desses ativos não se comparam aos do Tesouro dos EUA, por isso é irrealista imaginar que abandonem completamente o mercado de títulos norte-americanos. Em vez disso, merece mais atenção o risco de saída de ativos em dólares. Nos últimos anos, as ações americanas foram muito demandadas, e a exposição dos investidores a esse mercado está próxima do limite. O caos gerado pela administração Trump está levando investidores globais a repensarem suas alocações, o que pode resultar em redução da exposição a ativos dos EUA, em proteções cambiais contra o dólar ou em rotações para outros mercados — tudo isso exercerá pressão de baixa sobre o dólar.
Títulos protegidos contra a inflação e MBS: atrativos
Durante boa parte das duas últimas décadas, os principais bancos centrais implementaram políticas de afrouxamento quantitativo que suprimiram a volatilidade do mercado de títulos e eliminaram oportunidades claras de investimento. No entanto, agora que a volatilidade voltou a aumentar, os gestores podem se beneficiar de mais oportunidades. Por isso, para investidores ativos como nós, este é um momento propício.
Atualmente, favorecemos os títulos do Tesouro de longo prazo e os títulos protegidos contra a inflação (incluindo os TIPS nos EUA ou os ILBS no Reino Unido). Se estivermos errados sobre a evolução da curva de juros, o motivo mais provável seria uma inflação mais alta do que o previsto; nesse caso, os títulos protegidos contra a inflação teriam desempenho superior aos títulos convencionais, uma vez que as taxas poderiam subir devido ao aumento inflacionário.
Além disso, temos uma visão positiva em relação aos títulos lastreados em hipotecas de agências (MBS) nos EUA. Esses MBS contam com o respaldo do governo norte-americano e oferecem mais segurança do que os MBS não garantidos por agências. A volatilidade do mercado está ampliando o spread desses títulos, cujos rendimentos nas emissões recentes variam entre 5,5% e 6%, o que mostra seu apelo para investidores. Ao mesmo tempo, alguns títulos soberanos locais de mercados emergentes também oferecem altos rendimentos e merecem a atenção dos investidores.
Coluna de James McAlevey, gestor do BNP Paribas Global Absolute Return Bond e responsável por Renda Fixa Global Agregada e Retorno Absoluto na BNP Paribas AM
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