Evocando a arte da guerra do conhecido estrategista militar chinês Sun Tzu, a carta mensal de julho da gestora Kinea Investimentos traz uma análise sobre temas centrais que marcam o cenário econômico atual, como impacto geopolítico do conflito entre Israel e Irã —que para a casa já foi precificado, apostando numa baixa nos preços do petróleo; os movimentos do Federal Reserve diante de uma economia com mercado de trabalho apertado e o ciclo de juros no Brasil, estimando cortes no final do ano.
Conflito Israel-Irã: volta da Pax Americana e petróleo em alta ‘excessiva’
O embate entre Irã e Israel foi analisado sob a ótica do equilíbrio global de poder. A carta observa que o Irã demonstrou “capacidade operacional muito inferior ao que seus discursos sugeriam”, enquanto Israel se mostrou “amplamente superior em inteligência, interceptação e dissuasão”.
A resposta americana rápida e contundente foi interpretada como sinal de que os Estados Unidos não abandonaram seu papel de potência estabilizadora.
“Essa combinação de um ‘eixo’ mais frágil e uma liderança americana reativada pode estar, na prática, abrindo espaço para uma desescalada geopolítica”, afirma o texto. A redução da percepção de risco sistêmico, segundo a Kinea, pode gerar compressão nos prêmios de risco globais, em um possível retorno à “velha e conhecida Pax Americana”.
Ainda de acordo com a casa, os preços do petróleo subiram impulsionados por um prêmio de risco geopolítico; esse acréscimo, porém, foi considerado excessivo, pois já pressupunha uma interrupção prolongada da produção iraniana.
Também foi avaliada como remota a possibilidade de fechamento do Estreito de Ormuz, por onde passam cerca de 80% das importações do Irã, dado que o próprio país e seus aliados dependem desse canal para exportar petróleo e importar alimentos. Com o arrefecimento do conflito, o prêmio geopolítico se dissipou e os preços do petróleo voltaram à trajetória de queda, mantendo o cenário base de recuo para a commodity.
Federal Reserve: juros elevados por mais tempo
A carta aponta que o Federal Reserve enfrenta um cenário complexo para decisões futuras de juros, em meio a sinais mistos da economia. “Triunfam aqueles que sabem quando lutar e quando esperar”, cita o relatório, referindo-se à cautela do banco central americano diante das incertezas sobre inflação e atividade econômica.
O documento destaca que, embora haja uma desaceleração em curso, ela é acompanhada de um mercado de trabalho ainda apertado, impulsionado pela forte queda da imigração e pela restrição da oferta de mão de obra.
Isso limita o impacto da desaceleração sobre o desemprego e mantém pressões sobre salários, especialmente em serviços. A Kinea avalia que o Fed deverá permanecer inativo até setembro, “de modo a esperar para ter maior conhecimento sobre a posição relativa da economia em termos de inflação e emprego”.
Ainda que um ciclo de cortes possa começar no fim do ano, o relatório é direto: “o Fed não vai conseguir fazer um ciclo relevante”. A visão da gestora é de que a autoridade monetária manterá os juros elevados por mais tempo, e por isso, a estratégia continua com posições tomadas na parte longa da curva americana.
Brasil: cortes entre final do ano e início de 2026
No Brasil, a análise destaca o enfraquecimento gradual da atividade econômica e a perda de força da inflação, com núcleos mostrando desinflação e o câmbio comportado ajudando no processo. A Selic, atualmente em 15%, já reflete o aperto monetário dos últimos trimestres.
“Apesar do Copom sinalizar que não hesitará em retomar o aperto, acreditamos que a barra para voltar a subir é elevada”, afirma o relatório.
Diante disso, a gestora considera que o cenário técnico e político começa a se alinhar para o início de cortes na taxa básica entre o final deste ano e o início de 2026. Em termos de estratégia, a recomendação é de manutenção de posições aplicadas, que se beneficiam da queda das taxas futuras.