O último relatório da McKinsey & Company, o Global Private Markets Review 2025, revela que captar capital continua sendo um desafio, o que resultou em uma redução de novos commitments em 24%, até os 589 bilhões de dólares em 2024 a nível global, acumulando seu terceiro ano consecutivo de queda. Apesar disso, as distribuições aos LPs superaram as contribuições de capital pela primeira vez desde 2015, proporcionando alívio aos investidores em um momento-chave para a liquidez do setor.
No entanto, o investimento global em Private Equity alcançou os 2 trilhões de dólares em 2024, registrando um crescimento de 14% após dois anos de declínio. Essa recuperação foi impulsionada por um notável aumento no número e valor das grandes operações, principalmente sob estratégias de buyout, em um contexto de condições de financiamento mais favoráveis. Além disso, os múltiplos de entrada situaram-se em níveis próximos aos de 2021 e 2022, refletindo uma maior confiança dos investidores na capacidade de revalorização dos ativos.
Maior foco na criação de valor
O contexto de investimento em 2024 foi marcado por múltiplos de entrada mais elevados e períodos de retenção (holding periods) mais longos, o que aumentou a pressão sobre os fundos de Private Equity para gerar valor em seus portfólios por meio de estratégias mais ativas de melhorias operacionais e de receita em suas companhias. Nesse sentido, as fusões e aquisições complementares (add-ons) representaram 40% do valor total das transações em private equity, consolidando-se como um fator-chave na geração de retornos.
O custo da dívida melhorou gradualmente, o que se traduziu em um aumento no valor de emissão de novos créditos para empresas apoiadas por Private Equity. No entanto, o dry powder global caiu 11% no primeiro semestre de 2024, situando-se em 2,1 trilhões de dólares e reduzindo seu inventário para 1,89 anos.
Tomeu Palmer, sócio da McKinsey e líder da área de Private Equity & Principal Investors na Ibéria, destaca: “Para as gestoras de Private Equity, focar na criação de valor por meio de alavancas operacionais e de crescimento nunca foi tão importante como agora. Os múltiplos de entrada atingiram máximas históricas e os holding periods estão mais longos, o que torna a otimização operacional e o crescimento essenciais para obter bons retornos.”
Novas dinâmicas no mercado secundário
O mercado secundário consolidou-se como uma fonte adicional de liquidez para os LPs, com um aumento de 45% no valor das transações. Esse crescimento impulsionou o interesse dos LPs em buscar liquidez adicional às distribuições por um lado e, por outro, nas operações secundárias lideradas por GPs (GP-led secondaries), com a criação de veículos de continuidade como estratégia para gestão de portfólios. No total, o volume de transações secundárias alcançou os 162 bilhões de dólares, o nível mais alto registrado historicamente.
Enquanto isso, os fundos do middle market foram os únicos que mantiveram níveis estáveis de captação em um ano de quedas generalizadas. Os fundos maiores não conseguiram crescer pela primeira vez em três anos, enquanto os fundos menores e recém-criados enfrentaram maiores dificuldades, com períodos de captação mais longos e volumes reduzidos. Em qualquer caso, a confiança dos LPs no segmento de Private Equity não está sendo afetada, com 30% deles planejando aumentar sua alocação a private equity nos próximos 12 meses, segundo resultados da nossa pesquisa global com LPs.
“O mercado secundário ganhou uma relevância sem precedentes, alcançando um volume de transações recorde de 162 bilhões de dólares. Mais da metade desse total corresponde a operações lideradas por LPs, o que demonstra que os investidores encontraram nesse mecanismo uma via eficiente para redistribuir capital e gerenciar a liquidez. Além disso, o mercado de transações lideradas por GPs também alcançou cifras históricas, com 84% desses fundos canalizados por meio de veículos de continuidade”, aponta Joseba Eceiza, sócio sênior da McKinsey e líder da área de Private Equity & Principal Investors na Ibéria.
Private Equity na Espanha: a confiança dos investidores em alta
Com relação à evolução do mercado de Private Equity na Espanha, Joseba Eceiza destaca que “a Espanha demonstrou uma notável capacidade de atrair investimentos, apesar dos desafios econômicos globais, o que reflete a confiança dos investidores na estabilidade e no potencial de crescimento do país. A Espanha continua se consolidando como um mercado-chave para o Private Equity, com um aumento recorde na captação de fundos, forte investimento estrangeiro e crescimento em setores estratégicos como tecnologia, agronegócio, turismo e infraestrutura digital.”
Os investidores internacionais desempenharam um papel crucial nessa recuperação, representando 73,5% do total investido na Espanha, com uma contribuição de 4,808 bilhões de euros. Esse domínio dos fundos estrangeiros está em linha com o crescimento global das transações P2P (Public to Private), que aumentaram 65% na Europa, segundo o mesmo relatório. “A confiança dos investidores internacionais no mercado espanhol é um voto de confiança na economia e nas oportunidades de investimento que ela oferece”, acrescenta Joseba Eceiza.
O setor tecnológico liderou o investimento em Private Equity na Espanha, captando 36% do capital, o que reflete a tendência global de aumento do investimento em tecnologia e serviços financeiros, com incrementos de 51% e 110% no valor das operações, respectivamente. Além disso, o setor hoteleiro e de turismo experimentou um crescimento notável, com 3,3 bilhões de euros em investimento hoteleiro, tornando a Espanha o segundo maior mercado da Europa, atrás apenas do Reino Unido. “A combinação de um setor tecnológico em ascensão e um turismo robusto está impulsionando o crescimento do Private Equity na Espanha, atraindo tanto investidores nacionais quanto internacionais”, explica Joseba Eceiza.
As desinvestidas e saídas (exits) também mostraram um crescimento significativo, com um aumento de 113%, até 2,902 bilhões de euros em 2024, em linha com o aumento global de 7,6% nos exits. “As saídas bem-sucedidas são fundamentais para o ciclo de investimento em Private Equity, e o aumento nesse tipo de operação indica uma maior liquidez e confiança no mercado”, aponta Tomeu Palmer.
No âmbito da infraestrutura, a Espanha está na vanguarda da expansão do mercado de centros de dados, com uma previsão de atrair mais de 20 bilhões de euros em investimento nos próximos cinco anos. Esse crescimento segue a tendência global de digitalização e infraestrutura tecnológica. “O investimento em centros de dados é um claro indicativo da aposta da Espanha na digitalização e na inovação, o que atrairá mais capital estrangeiro no futuro”, afirma Tomeu Palmer.
Principais pontos do relatório GPMR
A captação de fundos global caiu 24% até os 589 bilhões de dólares, marcando o terceiro ano consecutivo de queda. A atividade de transações recuperou 14%, alcançando 2 trilhões de dólares, o terceiro maior valor já registrado no setor.
Pela primeira vez desde 2015, as distribuições aos investidores superaram as contribuições de capital, aliviando pressões de liquidez. Os buyouts lideraram a captação de fundos e obtiveram o maior IRR em 2024, com aumento nas transações acima de 500 milhões de dólares. O venture capital registrou queda no número e volume de transações, refletindo menor dinamismo nesse segmento.
O growth equity apresentou estabilidade relativa, afetado pela cautela dos investidores e por condições de dívida mais restritas. O ambiente de financiamento melhorou, com menores custos e aumento no valor de emissão de nova dívida para empresas apoiadas por private equity. O dry powder global caiu 11% no primeiro semestre de 2024, situando-se em 2,1 trilhões de dólares e reduzindo seu inventário para 1,89 anos.
Uma pesquisa global com LPs revelou que 30% planejam aumentar sua alocação em private equity nos próximos 12 meses, refletindo confiança no setor. As operações de grande porte (+500 milhões de dólares) cresceram 37% em valor e 3% em número, destacando a preferência por acordos de maior envergadura. O auge do mercado secundário e o aumento de exits entre patrocinadores financeiros refletem maior sofisticação na gestão de portfólios e estratégias de liquidez.