Apesar da mudança no fluxo de capitais em direção à Europa e do colapso dos ativos norte-americanos a partir da alteração da ordem mundial provocada por Donald Trump e sua política tarifária, o Andbank mantém suas convicções sobre a supremacia dos Estados Unidos e, sobretudo, de seu setor tecnológico. Wall Street, apontaram, continua mostrando dinamismo e expande suas vendas em bom ritmo, ao contrário das empresas europeias.
Seu economista-chefe, Álex Fusté, afirmou em Buenos Aires que a empresa mantém uma visão positiva sobre o país norte-americano: acredita que estamos no início de um ciclo de investimento massivo em nova infraestrutura de capacidade de cálculo computacional, provocado em grande parte pela inteligência artificial, que “mudou tudo”.
Durante o primeiro evento organizado pelo banco na Argentina, Fusté afirmou ainda que, após o acordo alcançado entre EUA e Reino Unido e a assinatura temporária da trégua na guerra comercial com a China, virão acordos do país norte-americano com Japão e Índia. Em sua opinião, esses fatos dissiparão a incerteza entre os investidores e podem marcar a decolagem definitiva da renda variável norte-americana. O cenário não é bom para os títulos, segundo sua visão.
Como fundamentos da tese de investimento da entidade especializada em banca privada e com sede em Andorra, Fusté mencionou o crescimento dos lucros por ação (EPS, na sigla em inglês) europeus no primeiro trimestre de 2025, que foi negativo, e as projeções das empresas daquele continente.
“Trump atuou como elemento distorcedor, e então parece que é preciso olhar e ir para a Europa. Mas lá os resultados não crescem de forma convincente, as projeções das empresas não são promissoras e podem até piorar; as vendas não têm dinamismo e o momentum não é robusto. É verdade que o cenário não é de contração econômica, mas não há dinamismo. Portanto, não é critério suficiente ir para a Europa por não poder estar nos Estados Unidos”, afirmou.
Confiança no dinamismo dos EUA
O especialista descreveu, em seguida, a situação inversa vivida pelos Estados Unidos, onde o crescimento dos EPS continua avançando em bom ritmo e as principais empresas de tecnologia apresentaram resultados financeiros sólidos no primeiro trimestre. Disse ainda – com base em números – que as projeções são promissoras e robustas, com cifras de dois dígitos. O impulso parece sólido, acrescentou. “Nos Estados Unidos há muito mais dinamismo do que na Europa”, concluiu.
“Somos construtivos em relação aos EUA, porque consideramos que estamos no início de um ciclo de investimento massivo em nova infraestrutura de capacidade de cálculo computacional, provocado em grande parte pela inteligência artificial, que mudou tudo. A arquitetura computacional clássica já não serve e requer uma capacidade de cálculo que não temos”, destacou.
O evento em Buenos Aires foi organizado por Lucila Triulzi, Managing Director da Quest/Andbank, e Leonel Puppo, Country Manager do Andbank no Uruguai. Diante de uma plateia de mais de 100 pessoas reunidas no salão Emperatriz do Alvear Palace Hotel, o especialista disse: “Estamos diante do nascimento de uma nova indústria, e isso está apenas começando”.
Em sua opinião, o momento atual é semelhante ao de 1995, quando começava a se explorar a digitalização e a Internet, o que justifica uma expansão dos múltiplos nas empresas norte-americanas de tecnologia, apesar de estes terem se contraído na era do segundo mandato de Trump, de 23 para 17 vezes. Uma situação exatamente inversa à que ocorreu durante seu primeiro mandato, quando o P/L passou de 17 para 23 vezes.
Embora Fusté tenha reconhecido que o banco tem “certa cautela” com Trump, devido aos acontecimentos recentes que abalaram a confiança no excepcionalismo norte-americano, qualquer expansão da renda variável europeia a partir dos níveis atuais a colocaria automaticamente em território de sobrecompra, explicou. O especialista espera que o dólar (e seus ativos) recupere progressivamente seu valor, aproximando-se de níveis mais condizentes com seus fundamentos estruturais.
O posicionamento atual dos investidores (em posição comprada) sugere que começaram a sair em abril, mas não saíram do mercado em modo de “capitulação”, detalhou, e mostrou dados que indicam que os que saíram do mercado foram os investidores de varejo, não os institucionais.
Segundo a equipe estratégica do Andbank, o verdadeiro motivo da queda do mercado dos Estados Unidos foi a atuação dos vendedores a descoberto (short-sellers). Fusté citou Ken Griffin, fundador do hedge fund Citadel Advisors; Steven Cohen, da Point72 Asset Management; George Soros e seu Soros Fund Management; e Jeremy Grantham, da GMO Asset Management.
Reafirmando a visão construtiva do banco de investimentos nos Estados Unidos e em sua renda variável, Álex Fusté citou declarações de Jensen Huang, CEO da Nvidia, de março deste ano, quando afirmou que a Inteligência Artificial requer uma capacidade de computação até 100 vezes maior que a atual.
O especialista sugeriu manter sempre uma posição estrutural comprada no S&P500 e no Bund da Alemanha. A empresa estima que o índice fechará o ano em 6537 pontos, mais de 15% acima do seu preço atual.
Apresentação do fundo balanceado da Janus Henderson
No evento, Álex Fusté esteve acompanhado por John Davies, sócio da Accurate Partners, que apresentou o fundo balanceado da Janus Henderson, com mais de 30 anos de história e cerca de 350 bilhões de dólares em ativos sob gestão (AUM).
Voltado para perfis moderados e com uma gestão ativa, o fundo investe em ações (60%) e títulos (40%) em uma proporção variável conforme o contexto do mercado e com uma alocação neutra. Seu rendimento médio é de 9,54%.
Davies destacou que o fundo é uma boa opção para lidar com a volatilidade, especialmente presente neste ano de 2025. “A pior decisão é sair do mercado”, afirmou, apoiando-se em dados históricos sobre as correções.
A estratégia investe principalmente em ações tecnológicas norte-americanas e, em menor proporção, nos setores de saúde e financeiro. No que diz respeito à renda fixa, seleciona de forma relativa títulos securitizados (ABS, CLO, CMBS e dívidas relacionadas a hipotecas), já que oferecem proteção em momentos de volatilidade.
Na sessão de perguntas após as duas apresentações, Fusté destacou que o maior risco ao cenário traçado pelo Andbank – que contempla acordos bilaterais no âmbito da guerra comercial – é uma desvalorização do Renminbi chinês. Isso, advertiu, poderia desencadear uma reedição da crise asiática, com desvalorizações generalizadas na região e uma provável crise mundial que, agora, ao contrário de outros momentos históricos, os organismos de crédito não poderiam conter.
Também indicou que são esperados dois cortes de juros pelo Fed este ano, mas que podem ser adiados para 2026.