Apesar das mudanças que vive a indústria, para Tobias Pross, CEO da Allianz GI desde 2020, há algo que não mudou: “Neste negócio, é preciso criar valor e estar presente onde acreditamos firmemente que podemos oferecer boas respostas aos clientes”. Esse mantra os acompanha desde o lançamento da firma como Allianz Global Investors em 2012, passando de 279 bilhões de euros em ativos (AUM) sob gestão para os atuais 571 bilhões de euros.
O balanço que Pross faz desse período é positivo. “Embora a maior parte do nosso negócio esteja concentrada na região EMEA, onde gerimos 461 bilhões de euros, temos uma parceria global importante com a Voya IM no mercado dos EUA, de onde gerenciam estratégias que distribuímos nos demais mercados”.
Separados por classes, a renda fixa representa 31% dos ativos sob gestão, 29% estão em multimercados, 24% em renda variável e 17% em ativos alternativos. Segundo Pross, é uma “distribuição equilibrada”. “Trata-se de um negócio realmente saudável do ponto de vista de um gestor totalmente ativo, já que tecnicamente se pode dizer que está dividido em um terço, um terço e um terço, como costumávamos esperar em termos de renda variável, renda fixa e multimercados”, afirma.
No entanto, ele reconhece que esses percentuais estão destinados a evoluir, dando maior peso aos mercados privados. “Já superamos os 100 bilhões de euros em títulos privados sob gestão. Sem dúvida, esse é o nosso ‘pequeno bebê’ que cresceu em grande velocidade. Estamos bastante seguros de que, com nossos títulos privados, alcançaremos uma carteira ainda mais equilibrada e distribuída em quatro partes”, comenta Pross.
Ativos alternativos: ainda desconhecidos
O CEO da gestora reconhece que os investimentos alternativos são uma das tendências que estão transformando a indústria, mas considera que ainda são “bastante desconhecidos” e que é necessário um exercício de transparência e educação para aproximar as oportunidades dessa classe. Para a companhia, a mudança em direção aos alternativos foi, sem dúvida, um de seus principais motores. “Quando dissemos ‘queremos investir em ativos alternativos e no desenvolvimento que há lá fora’, fizemos isso em uma fase muito inicial e apenas a partir da conta geral de nossa empresa-mãe. De nossa experiência, aprendemos que cada vez mais importa o que você faz no âmbito dos veículos de investimento alternativos”, afirma. Ele também explica que a demanda tem evoluído e surgiram novos veículos de investimento, que sustentam suas perspectivas de crescimento nessa área do negócio.
Sobre como vão organizar a oferta, Pross explica que concentraram o foco na unificação de sua plataforma de mercados privados em torno de dois pilares: infraestrutura (abrangendo dívida e equity) e crédito privado e private equity, onde têm planos de ampliar a oferta no curto prazo.
Segundo indicam da gestora, os três objetivos que estabeleceram são: oferecer aos clientes acesso a uma plataforma integral de soluções em mercados alternativos, que proporcione soluções personalizadas; ampliar continuamente as capacidades de investimento para oferecer soluções inovadoras, como por exemplo com novos veículos ELTIF 2.0; e criar novas oportunidades de investimento com retornos ajustados ao risco atrativos.
Ásia-Pacífico: impossível ignorar
Um dos mercados onde a gestora vê mais potencial para o crescimento dos negócios é a Ásia-Pacífico. “O crescimento composto é impressionante, embora os EUA ainda sejam o maior mercado em termos de receita para o setor a nível mundial. A Ásia exige uma experiência profunda e, por isso, acreditamos que a gestão ativa tem grande potencial e muito a oferecer. Atualmente, gerimos 107 bilhões de euros e nosso objetivo é impulsionar as entradas de capital e crescer a longo prazo, apesar da incerteza do mercado. Nesse sentido, nossa Sociedade Gestora de Fundos (FMC) já está operativa e lançamos dois primeiros produtos onshore, com planos de lançar outros quatro em 2025”, explica o CEO sobre o negócio da firma na Ásia-Pacífico.
Outro ponto chave que destaca sobre sua presença nessa região é sua aliança estratégica com a Guomin Pension, que é o único investidor estrangeiro aceito pelas autoridades. “Isso é comparável a ter sido autorizado a investir no sistema público alemão”, aponta. Nesse sentido, a firma quer reforçar sua posição de liderança e ampliar sua presença em novos mercados, embora Pross não tenha especificado quais.
Em dezembro de 2024, a Allianz GI recebeu a aprovação regulatória para adquirir uma participação de 2% na Guomin Pension. O investimento, de aproximadamente 284 milhões de yuans (cerca de 39 milhões de dólares), foi realizado mediante a subscrição de cerca de 228 milhões de novas ações emitidas pela Guomin Pension. Segundo a firma, essa parceria estratégica tem como objetivo combinar a experiência internacional da Allianz GI em áreas como gestão de riscos, desenvolvimento de produtos e alocação de ativos, com o conhecimento local da Guomin Pension.
Na opinião de Pross, “desenvolvemos subclasses de ativos, e o que fazemos, fazemos realmente bem, e seguimos o ditado alemão: sapateiro, cuide dos seus sapatos. Sem dúvida, a China é a próxima grande potência do ponto de vista do PIB, mas há outra que não devemos perder de vista: a Índia. É um mercado no qual também é necessário entrar com cuidado e experiência, também sob a ótica dos mercados privados”.
Primeiro teste de ETF ativo
Segundo anunciou o CEO da gestora, graças à liderança que possuem no mercado de Taiwan, e aproveitando que a tendência atual de crescimento dos ETFs ativos segue forte, pretendem lançar os primeiros veículos desse tipo no mercado taiwanês, para testá-los e ver se faz sentido levar a oferta a outros mercados como, por exemplo, o europeu.
“Trata-se de desenvolver uma oferta de produtos específica sem risco imediato de canibalização. Aproveitamos nossas fortalezas locais em renda variável taiwanesa para oferecer um ETF ativo de renda variável local como piloto. Esperamos lançar o primeiro antes do verão, então a equipe já está trabalhando intensamente”, afirma.
Pross insiste que a força da Allianz GI está justamente na gestão ativa e explica que o mercado de ETFs nos EUA, que é a principal referência para os investidores, responde a uma realidade muito específica: “A razão pela qual as pessoas estão usando os ETFs ativos nos EUA tem muito a ver com os incentivos fiscais que existem. Nos EUA, uma transação de um fundo mútuo custa 15 dólares, enquanto a de um ETF custa apenas 5 dólares. Esse é o verdadeiro motor do mercado de ETFs ativos nos EUA.” Por outro lado, sobre o mercado europeu de ETFs ativos, mostra-se prudente e reconhece que seu desenvolvimento está “um pouco atrás” em comparação ao americano. “Mas, novamente, estamos preparados”, insiste. Essas três áreas permitem a Pross falar sobre o crescimento do negócio, sobre o qual ele pontua: “Nosso objetivo é crescer de forma orgânica, mas não descartamos fazê-lo também de forma inorgânica se as oportunidades forem boas”.
Sustentabilidade e tecnologia
Na revisão que Pross fez da estratégia de negócios da gestora, durante o encontro anual com jornalistas europeus, ele também destacou a aposta decidida que fizeram em sustentabilidade e tecnologia.
Sobre a primeira, explica que os clientes não buscam apenas rentabilidade, mas também sustentabilidade, devido à sua visão de longo prazo. “É algo que levamos realmente a sério, e prova disso é nossa política de proxy voting. Em primeiro lugar, porque acreditamos que é preciso retribuir à sociedade e, em segundo lugar, porque nos identificamos como investidores sustentáveis. Sem dúvida, é possível encontrar oportunidades de investimento alinhadas com os artigos 8 e 9 do SFDR”, argumenta.
Por fim, o CEO explica que a gestora considera a tecnologia um elemento chave para ser mais competitiva em seu negócio, por isso vão continuar investindo em três áreas principais: sua plataforma de dados; alinhar e simplificar suas plataformas tecnológicas; e incorporar tudo isso à sua forma de trabalhar.
“Nossa visão é implementar a IA em toda a cadeia de valor para acelerar, desenvolver e automatizar nossa análise de investimentos, sustentabilidade, desenvolvimento de software, atendimento ao cliente e produtividade”, destaca Pross.